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hikafigueiredo

“A Carruagem de Ouro”, de Jean Renoir, 1952

Filme do dia (101/2024) – “A Carruagem de Ouro”, de Jean Renoir, 1952 – Século XVIII. Em uma cidadela perdida, no Peru, o Vice-Rei local (Duncan Lamont) manda trazer, da Europa, uma belíssima carruagem de ouro. No mesmo navio, vem uma trupe italiana de commedia dell’arte, contratada por um estalajadeiro para se apresentar na cidade. Dentre os integrantes da trupe, está Camilla (Anna Magnani), a qual encantará não apenas o Vice-Rei, mas, também, Rámon (Riccardo Rioli), um célebre toureiro local.





Adaptação de uma peça teatral de 1829, o filme é uma grande homenagem ao teatro em geral e, mais especificamente, à commedia dell’arte italiana. A narrativa, desde a primeira cena, mescla o universo ficcional ao espaço de uma peça de teatro encenada, de forma que os limites entre eles são fluídos e inespecíficos. Além da bela homenagem, o filme ainda discorre sobre o papel do ator, o qual só conseguiria se realizar e alcançaria algum sentido na vida enquanto estivesse no palco – em outras palavras, o ator jamais conseguiria se despir de seu ofício, ele só encontraria sua razão de ser apresentando-se para uma plateia e assumindo identidades outras, as quais sobrepujariam sua própria identidade. Nesse sentido, o diálogo final entre Camilla e Don Antonio, o líder da trupe, é bastante significativo. A narrativa – que, como já mencionei, mistura a realidade ficcional com o que acontece em uma peça de teatro – é linear, a despeito da abertura e do encerramento do filme. O ritmo é moderado, mas crescente. A obra consiste em uma “comédia de erros”, tendo como peça motriz a personagem Camilla, a principal atriz da trupe, que interpreta a Colombina, e que, com naturalidade, encanta e seduz importantes personagens daquela sociedade. A atmosfera é de um humor e tensão leves, já que os enamorados de Camilla não sabem uns dos outros e sentem-se enciumados de sua amada, que, sem muito traquejo, precisa fazer certo malabarismo com os pretendentes (muito embora jamais minta para qualquer deles). O filme é visualmente belíssimo, com uma fotografia colorida com muita saturação e brilho. O desenho de produção, da mesma forma, é extremamente vistoso e colorido, com o predomínio do dourado e do vermelho. Cada cena é uma verdadeira “pintura” e as imagens são bem rebuscadas, com muitos detalhes a serem explorados pelo olhar. A trilha musical é totalmente composta por obras de Vivaldi e dão um tom alegre e festivo à narrativa. O elenco, composto por intérpretes multinacionais (italianos, franceses, britânicos e americanos) tem, como “carro-chefe” a estupenda Anna Magnani que, mesmo sendo completamente fora dos padrões estéticos vigentes na época, sempre interpretou mulheres fascinantes e poderosas, certamente por conta de seu talento e seu magnetismo natural – sou fanzaça da atriz, ela simplesmente jamais errou. O trio de enamorados da personagem Camilla é interpretado por Paul Campbell (Felipe), Riccardo Rioli (Ramón) e Duncan Lamont (Vice-Rei), todos muito bem em seus papeis. Como Don Antonio, Odoardo Spadaro, como Marquesa, Gisella Mathews e, como Bispo, numa rapidíssima aparição, Jean Debucourt. A obra, elegante e refinada, foi um fracasso de público na época, mas, atualmente, é considerada o ponto alto da fase tardia do diretor Jean Renoir. É um filme bonito e divertido, que vale a pena. Disponível apenas em torrent e mídia física.

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