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  • hikafigueiredo

“A Dama de Honra”, de Claude Chabrol, 2004

Filme do dia (91/2024) – “A Dama de Honra”, de Claude Chabrol, 2004 – Philippe (Benoit Magimel) é um promissor funcionário de uma empreiteira. Discreto, racional e responsável, ele é filho de Christine (Aurore Clément) e irmão de Patricia (Anna Mihalcea) e Sophie (Solène Bouton). No casamento de Patricia, ele conhece Senta (Laura Smet), uma das damas de honra, e rapidamente se envolve com a moça, num relacionamento surpreendente e doentio.





Nesta obra, o diretor Claude Chabrol, mais uma vez, mostra a perfeita construção de um irretocável suspense psicológico a partir de uma simples (ou não tão simples) relação amorosa. Chabrol inicia apresentando minuciosamente Philippe – o personagem é o equilibrado filho de Christine, tendo assumido o papel de responsável pela família após a partida de seu pai. Discreto e ponderado, ele é o funcionário modelo de uma empreiteira e tem, diante de si, promessas de crescimento dentro da empresa. Toda a constância e previsibilidade da vida de Philippe cai por terra quando ele conhece e se envolve com Senta, uma das damas de honra do casamento de sua irmã Patricia. Senta é o oposto de Philippe – impulsiva e com uma vida desregrada, Senta rapidamente se entrega de corpo e alma para o amante, tecendo juras de amor eterno e exigindo provas de reciprocidade. Philippe se surpreende com a intensidade da jovem e de seus sentimentos, sentindo-se cada vez mais atraído por aquela figura tão incomum e cheia de histórias fantásticas, e, sem se dar conta, enreda-se numa relação obsessiva e sem qualquer freio. É incrível como o diretor constrói dúvidas no espectador acerca do que é verdade e o que é fantasia relacionado a Senta, a mesma dúvida que povoa a mente de Philippe. Chabrol consegue, ainda, dissecar a loucura e maldade humanas, fazendo-as brotar das pessoas mais insuspeitas e improváveis. A narrativa é linear e assume o ponto de vista de Philippe desde o início. O ritmo é moderado, mas crescente. A atmosfera é tensa, dúvidas surgem constantemente e possibilidades povoam a mente do espectador, o qual tenta destrinchar os acontecimentos. Numa representação interessante, descemos ao fundo da natureza humana como descemos ao porão onde Senta vive – e nenhum dos dois é bonito de se ver. Se a força do filme está nessa construção do suspense – que é muito gradual, encaixando peça por peça -, o trabalho dos intérpretes também merece destaque. Benoit Magimel consegue fazer, com muito cuidado, a transição entre o Philippe ponderado para aquele que “abraça” a loucura da amante – a forma como ele aceita o que Senta revela poderia ficar inconsistente na trama, mas foi tão bem construído que não restaram brechas; Laura Smet, por sua vez, consegue dar vida a uma Senta factível – a personagem poderia ter ficado histriônica, exagerada, mas a atriz, num trabalho excelente, fez a personagem parecer possível, mesmo em meio aos seus impulsos e loucuras e, como Philippe, acabamos por acolhê-la. No elenco, ainda, temos o ótimo trabalho de Aurore Clément como Christine e de Bernard Le Coq como Gérard. Eu, particularmente, gostei demais do filme, que me prendeu a atenção do começo ao fim e me fez elucubrar mil possibilidades durante a narrativa. Recomendo. Pelas minhas pesquisas, não está disponível em streaming (só por torrent ou mídia física).

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