Filme do dia (12/2025) – “A Greve”, de Sergei Eisenstein, 1925 – Rússia, início do século XX. Em uma fábrica, um trabalhador é acusado de roubo, é espancado e, indignado com a acusação, suicida-se. Este é o estopim para a deflagração de uma greve que já se construía diante da insatisfação dos operários, os quais já haviam apresentado aos dirigentes da fábrica uma série de exigências relacionadas às condições de trabalho e à remuneração. A recepção do governo à greve, no entanto, é diferente da esperada.

Primeira obra de destaque do diretor, o filme retrata não apenas a movimentação dos operários contra as péssimas condições de trabalho e os baixos salários, mas também o tratamento violento que lhes era dispensado, tanto na esfera do trabalho, como a nível de sociedade. Com uma estrutura bastante semelhante à da principal e mais contundente obra de Eisenstein – “O Encouraçado Potemkin” (1925) -, o filme é uma representação geral dos movimentos grevistas, especialmente daqueles que aconteciam no início do século XX, no Império Russo, e que eram reprimidos de maneira profundamente sangrenta, terminando em verdadeiros massacres de trabalhadores. O filme começa com uma frase de Lênin que salienta a importância da organização para o proletariado – é dela que a força dos trabalhadores se faz e se consolida. A partir daqui temos a exposição de como se dava a exploração dos operários na fábrica em questão, sua insatisfação e o início do movimento grevista. Como uma grande bola de neve, a situação torna-se cada vez mais insalubre até tornar-se insustentável e os trabalhadores se jogarem em uma greve de proporções consideráveis – e tendo, como resposta, uma repressão potencialmente mais avassaladora. A narrativa é composta por seis capítulos, os quais expõe, de forma didática, como se formava e abatia um movimento grevista em pleno Império Russo. Através de inúmeras sobreposições de imagens, o diretor constrói comparações que vão da índole duvidosa dos espiões que sondavam os trabalhadores, comparados a aves de rapina e raposas, à violência dispensada aos grevistas, cuja analogia ao abate de uma vaca chega a ser perturbadora (apesar de entender a importância da cena, eu preferia não a ter visto). A obra não traz personagens específicos de destaque – desde sua concepção, o filme traz a ideia da força coletiva, do todo em detrimento do particular: o papel de cada trabalhador não tem o mesmo impacto que a massa organizada do proletariado, salientando a importância da união. Além disso, como já comentado, o filme intenta ser a representação da ideia de greve, rechaçando detalhes que especifiquem muito a ocasião. Cinematograficamente, o filme traz duas grandes forças: a fotografia e a montagem. Alternando planos muito fechados em rostos que olham de frente para câmera, estabelecendo um diálogo direto entre personagem e espectador (expediente utilizado novamente, anos depois, no magnífico “Vá e Veja”, 1985, meu filme russo predileto), e planos muito abertos, de forma a representar o coletivo, a fotografia da obra, P&B muito contrastada, é de onde advém por boa parte da atmosfera de tensão e terror que a narrativa promove. Já a montagem minuciosa do diretor é responsável pela construção de comparações, metáforas, processos e relações de causa e efeito do filme. É uma obra forte, impactante e que gera, propositalmente, uma grande indignação no espectador. Tem cenas horríveis como o abate do gado que se tornam ainda mais perversas pela comparação com o que estava sendo feito aos trabalhadores – esteja preparado -, mas é um filme importante do cinema mundial e, particularmente, da filmografia de Eisenstein. Se tiver chance, veja. Segundo o Justwatch, está disponível em streaming no Looke, Telecine e Prime Video.
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