Filme do dia (05/2024) – “A Sociedade da Neve”, de Juan Antonio Bayona, 2023 – Uruguai, 1972. Um grupo de jovens, integrantes de um time de rúgbi, parte, de avião, de Montevideu à Santiago, no Chile, para um campeonato esportivo. No meio do caminho, o avião em que estavam sofre um acidente e cai em meio à Cordilheira dos Andes. Vinte e nove dos quarenta e cinco passageiros sobrevivem à queda e terão de lutar para sobreviver em um ambiente inóspito e extremamente hostil.
O filme retoma a célebre história dos jovens que, de uma forma extraordinária e contra todas as probabilidades, sobreviveram a um acidente de avião em meio à Cordilheira dos Andes, necessitando, para tanto, recorrer a expedientes psicologicamente bem complexos. Li, bem jovem, o livro “Os Sobreviventes dos Andes”, de Piers Paul Read, e essa história jamais saiu da minha cabeça. Em 1993, foi realizado uma versão cinematográfica do livro (que pretendo ver em breve) e, agora, no cinquentenário do evento, essa refilmagem. Bom, não assisti ao primeiro filme, mas fiquei bastante (bem) impressionada com essa refilmagem, até onde minha memória lembra, bastante fiel ao livro. O filme acompanha o grupo desde os preparativos para a viagem até o resgate após setenta e dois dias do acidente e consegue, com sucesso, transmitir a agonia dos sobreviventes lutando pela vida. O filme segue a narrativa do jovem Numa e mostra como decisões bastante controversas foram sendo tomadas à medida em que a situação se tornava mais e mais grave e extrema. Não bastassem as privações que todos passavam havia, ainda, dilemas morais, religiosos, afetivos e psicológicos que era necessário passar para garantir a sobrevivência – e a obra é bem efetiva em apresentar todas essas questões. A narrativa é linear, contada como um flashback, em grande parte com narração em off do personagem Numa. O ritmo é pausado, com alguns “picos” de ritmo, adequado ao tema. A atmosfera é de angústia, terror, medo, e dificilmente o espectador não se sentirá perturbado com a obra (eu, que já conhecia cada palmo da história, percebi bem claramente esse peso, imagino como seria para alguém que não conhecesse o acontecido). Tecnicamente, destaco os ótimos efeitos especiais – tanto a cena do acidente como a da avalanche são incrivelmente bem feitas e brutais, aproximando a experiência aterrorizante do público. A fotografia também é ótima e aproveita muito bem os planos bem abertos para dar ideia de insignificância daqueles sobreviventes frente a enormidade da cordilheira, bem como para pontuar a solidão daqueles que ali estavam – é uma imensidão opressora, até difícil de explicar. Merece destaque, ainda, o desenho de produção e a maquiagem – a modificação dos personagens ao longo dos dias, semanas, meses, de abandono em meio à natureza selvagem é impressionante. O elenco – enorme, já que eram muitos os envolvidos – traz Enzo Vogrincic no papel de Numa Turcatti, Matias Recalt no papel de Roberto Canessa e Agustin Pardella como Nando Parrado, os quais ocupam um papel de protagonismo na história. O filme é muito bom, realista e não apela para manipulações (tão comuns nos filmes hollywoodianos) – acredito que muitos espectadores irão entrar numa vibe de valorizar as boas coisas que têm na sua existência, o filme tem bastante essa pegada de superação, esperança e valorização da vida (o que eu acho bem compreensível. Eu gostei muito e recomendo (está na Netflix).
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