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  • hikafigueiredo

“A Solidão de Uma Corrida Sem Fim”, de Tony Richardson, 1962

Filme do dia (93/2024) – “A Solidão de Uma Corrida Sem Fim”, de Tony Richardson, 1962 – Após uma tentativa de furto mal executada, o jovem Colin Smith (Tom Courteney) acaba sendo enviado a um reformatório para jovens delinquentes. Ali, ele chama a atenção do diretor do reformatório por seu talento para a corrida de longo alcance. Com vistas a uma competição contra uma escola de elite, o diretor oferece inúmeros privilégios ao jovem, que rapidamente se torna seu protegido.





A obra, representante da Nouvelle Vague Britânica, trata dos principais temas do movimento – a luta de classes e o inconformismo e rebeldia dos jovens da classe trabalhadora britânica, os quais, à margem da sociedade e percebendo sua própria situação de abandono e total ausência de qualquer privilégio, voltavam-se contra o sistema. Aqui, acompanhamos alguns fragmentos da vida do protagonista Colin Smith – após perder o pai precocemente para uma doença e ver sua mãe unir-se ao seu amante em pouco tempo, Smith rebela-se contra todo e qualquer poder instituído, seja a mãe, o governo ou a polícia. Obrigado a trazer algum dinheiro para casa, Smith resvala para a criminalidade como forma de resistência ao sistema, cometendo pequenos delitos. Ele rapidamente é preso, sendo enviado para um reformatório para jovens criminosos, no qual chama a atenção do diretor por seu talento para a corrida de longa distância. Vendo em Smith a chance de ganhar uma importante competição contra uma escola de elite, o diretor oferece ao jovem uma série de privilégios. Acredito que as palavras que melhor definem o filme são convicção e determinação. Smith tem convicção na sua visão de mundo, nos seus valores e crenças e está determinado a não mudar nada disso. Ele é contra o sistema e está decidido a não se curvar diante dele. Eu confesso que o personagem me impressionou pela sua determinação e por ser tão fiel a si mesmo. A narrativa é não-linear, e “passeia” por diversos momentos da vida do protagonista, muito embora seu período no reformatório seja acompanhado segundo o tempo cronológico. O ritmo é de lento a moderado e, como não é comum no movimento da Nouvelle Vague Britânica, possui um clímax. A atmosfera é de inquietude, inconformismo e revolta silenciosa – Smith luta contra o sistema, mesmo que silenciosa e vagarosamente. Formalmente, é uma obra que tem certa “brutalidade”, pois ausente qualquer romantização daquela realidade. A fotografia P&B é suave e sem grandes contrastes, como se não quisesse roubar a atenção para uma questão estética. Apesar de ter planos majoritariamente médios e próximos, são os planos abertos os mais loquazes, pois mostram a relação de Smith com a liberdade física em comparação à sua liberdade de pensamento (talvez isso não faça muito sentido para quem não viu o filme, mas tem um significado na história). Quanto às interpretações, gostei bastante do trabalho de Tom Courteney como Colin Smith – o personagem tem um olhar raivoso penetrante e que fala muito sobre o protagonista e sua postura é quase sempre contestadora e provocativa, mesmo quando ele está quieto e obedecendo as regras. Seu contraponto é o diretor do reformatório, interpretado magistralmente por Michael Redgrave – o antagonista também tem suas convicções e formas de impô-las aos jovens do reformatório, seja através da força ou seja através da negociação de privilégios. O embate entre os personagens é essencial na obra, principalmente por se dar em silêncio e não abertamente. Destaque para a cena clímax da competição – a forma como o diretor mostra o bombardeamento do protagonista por seus pensamentos, não muito conexos, naquele período de corrida é sublime! Eu gostei demais do filme, ele pode até parecer simples, mas ele tem certas complexidades difíceis de explorar. É um filmaço e recomendo DEMAIS!!!!! Claro que, para assistir a esse filme, só por torrent ou mídia física – sinto muito, mas o streaming é a morte do cinema...

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