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“Acabe com Eles”, de Christopher Andrews, 2024

hikafigueiredo

Filme do dia (19/2025) – “Acabe com Eles”, de Christopher Andrews, 2024 – Na área rural da Irlanda, Michael (Christopher Abbott) cuida do rebanho de carneiros da família e de seu pai doente, Ray (Colm Meaney). A rivalidade com seus vizinhos - Gary (Paul Ready) e o filho dele, Jack (Barry Keoghan) – trará consequências devastadoras para ambas as famílias.




 

Focando na interação entre duas famílias de fazendeiros rivais, o filme trata de assuntos profundos e universais como as relações familiares, os traumas passados não superados, a masculinidade frágil, o medo dos filhos de uma possível desagregação familiar, o ciúme e, acima de tudo, a vingança. Partimos de um prólogo, no qual o personagem Michael, na juventude, provoca um acidente, de terríveis consequências, por não aceitar uma decisão familiar. Este acidente – jamais superado por Michael – continuará ecoando na sua vida adulta e terá relação com a animosidade dispensada por seu vizinho Gary e o filho dele, Jack. Ao longo da narrativa, haverá um confronto entre os dois polos, muito embora existam paralelos muito claros entre as ações impensadas de Michael – inclusive na juventude - e de Jack, ambas surgidas de relações familiares em decomposição e instigadas por ciúme, sentimentos de posse, submissão à figura paterna e um medo infundado de perda. Há, ainda, uma relação com a masculinidade frágil à medida em que ambos os personagens são exigidos por terceiros a comprovar que são capazes de ações terríveis e acabam se submetendo a tais exigências. O filme traz doses de crueldade e loucura explícitas na história, mas – ainda bem – implícitas nas imagens – muitas coisas acontecem à noite ou fora das vistas do espectador. Confesso que essa crueldade da obra me deixou muito perturbada e a imagem mental que me foi criada não saiu da minha cabeça até agora (e tem me feito sofrer desde então). A atmosfera do filme é de tensão e angústia crescentes, além de indignação e raiva viscerais – impossível não escolher um dos lados da rixa, mesmo considerando a violência inicial que deflagrou as questões posteriores. A narrativa é não linear, composta por dois blocos referentes a diferentes pontos de vista – seguimos linearmente a narrativa e, subitamente, voltamos no tempo para assumir uma nova visão acerca dos mesmos eventos (parece confuso, mas é fácil de acompanhar). Formalmente, destaque para as cenas de planos muito abertos retratando as montanhas do interior da Irlanda. Achei algumas cenas noturnas excessivamente escuras, mas acredito que seja proposital para evitar imagens chocantes (e eu agradeço ao diretor por isso). Destaque para a trilha sonora opressiva, composta pelo som de um tambor, e para a edição de som, especialmente nas cenas noturnas. Com relação às interpretações, não há elogio suficiente para Christopher Abbott como Michael – não bastasse sua interpretação contida, apoiada numa expressão facial impressionante, capaz de exprimir dores incontáveis, ele ainda fez isso tudo isso falando em gaélico, a língua local, muitíssimo diferente do inglês (lembrando que ele é estadunidense). Quanto a Barry Keoghan, mais uma vez ele dá vida a um personagem controverso, complexo e com toques de insanidade e crueldade acima de qualquer limite – e fazendo isso muito bem (sou suspeitíssima, claro, porque fã ardorosa do ator). Seu Jack é, ao mesmo tempo, violento e frágil, com algo que nos faz lembrar uma criança assustada. Paulo Ready interpreta Gary, um personagem detestável e tóxico, num ótimo trabalho do ator. No elenco, ainda, Colm Meaney (ator irlandês recorrente) e Nora-Jane Noone como Caroline. O filme é ótimo, mas me deixou péééééééssima. Ainda assim, aconselho como uma ótima pedida. Produção do MUBI, está nesse mesmo streaming.

 
 
 

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