Filme do dia (148/2023) – “Afire”, de Christian Petzold, 2023 – Leon (Thomas Schubert) e Felix (Langston Uibel) vão para a casa de campo da família de Felix, no Mar Báltico, para que Leon, um escritor, termine seu segundo livro. Com surpresa, descobrem que a casa está ocupada por Nadja (Paula Beer), a qual está sexualmente envolvida com Deivid (Enno Trebs), o salva-vidas local. Os amigos decidem dividir a casa com Nadja e logo diferentes emoções irão surgir envolvendo os quatro indivíduos, enquanto, do lado de fora, incêndios regionais saem de controle.
Uma história sobre paixão, ressentimento, ciúme, arrogância e orgulho, muitíssimo bem orquestrada pelo diretor Petzold – é disto que se trata a obra. O encontro dos quatro personagens na casa de campo, afastada da cidade, dará margem para os mais desencontrados sentimentos entre os envolvidos. O protagonismo fica por conta do personagem Leon, pois é através de seu olhar que a narrativa evolui. O escritor encontra-se inseguro e ansioso pela crítica de seu editor e tem pouco tempo para trabalhar seu livro. Ele se ressente das noites agitadas de Nadja e Deivid que o impedem de dormir e os culpa por não conseguir evoluir sua escrita. Os demais personagens interagem entre si de formas diversas, mas sempre de uma forma amistosa, ao contrário de Leon, que se mostra irritadiço, irônico e até mesmo agressivo. Os sentimentos e as interações entre os personagens estarão intimamente ligados à evolução dos incêndios florestais nas cercanias da casa – aqui, o fogo é uma metáfora fácil destes sentimentos que misturam paixão, desejo, ciúme e raiva e que terão consequências insuspeitas ao longo da história. A narrativa é linear, em ritmo moderado, mas crescente. A atmosfera é quase permanentemente de desconforto, principalmente face à conduta muito pouco gentil de Leon, cuja personalidade revela certo egocentrismo e muita imaturidade. Formalmente, a obra é bem convencional, mas extremamente bem executada. O roteiro, amarradíssimo, revela detalhes e questões bem gradualmente, de forma que o espectador não “canta a bola” nos primeiros dez minutos de filme. Gostei de certa ambiguidade que é colocada nas relações entre os personagens – demora um pouco para termos certeza da natureza destes relacionamentos. A obra traz um elenco cirúrgico: não consigo imaginar alguém que fizesse um Leon tão perfeito quanto Thomas Schubert – o nosso protagonista é, por vezes, insuportável; ele é rabugento, arrogante, irônico, estúpido, mas, desenvolvemos um afeto legítimo por ele e, ao final, estamos torcendo demais pelo personagem; Langston Uibel interpreta o animado Felix, um personagem adorável, extremamente simpático; Paula Beer interpreta a misteriosa Nadja, uma personagem muito humana e que possui qualidades não reveladas; Enno Trebs dá vida ao personagem Deivid e Matthias Brandt, ao personagem Helmut, o editor de Leon. Acabou o filme, eu me vi apaixonada pela obra e por cada um dos personagens. É uma obra sólida, muito bem prevista e executada. Eu amei e recomendo muito.
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