Filme do dia (137/2024) – “Ao Contrário”, de Jonás Trueba, 2024 – Ale (Itsaso Arana) e Alex (Vito Sanz) são casados há quinze anos. Sentindo o relacionamento desgastado e havendo expectativas diferentes entre o casal, Ale e Alex decidem que é hora de se separarem. Seguindo uma reiterada colocação do pai de Ale em que ele afirmava que as pessoas deveriam comemorar as separações e não as uniões, o casal decide fazer uma grande festa para comemorar o fim do relacionamento.
Difícil falar sobre este filme sem incorrer em spoilers monstro – mas vou tentar não revelar tudo. A obra, divertida e confortável, trata da contínua necessidade de se reinventar o amor, mas, também, de reconhecer os méritos da estabilidade, do compartilhamento e do momento “entre extremos”, no qual o amor estaria na sua essência (o intervalo entre a paixão inicial e a decepção do fim do relacionamento). Existe ali uma carga filosófica grande, inclusive com indicações de bibliografia, que mereceria uma atenção maior, mas que uma sessão efêmera de cinema não colabora na apreensão da totalidade das ideias expostas. Mas o filme não trata tão somente do amor – ele vai discorrer muito sobre o processo criativo e sobre cinema em geral. Este é um filme metalinguístico por excelência – Ale é uma diretora de cinema e Alex um ator; eles discutem sobre cinema, o fazer cinema e referências cinematográficas constantemente. Ale está terminando seu último filme e, digamos, esse processo confunde-se com a história do casal (só posso vir até aqui para não estragar a experiência do amiguinho). Ao longo da narrativa, temos várias “brincadeiras” ligadas ao fazer cinematográfico, as quais vão ficando mais comuns e intensas quanto mais perto do fim chegamos. A narrativa está mais para linear (só entende essa colocação quem assistir ao filme rs), em ritmo intenso e constante. Apesar do casal central falar sobre separação, a atmosfera é leve e agradável – é bonitinho ver a interação do casal, sua sintonia e o quanto eles são complementares e leem os sinais corporais um do outro. O roteiro traz uma enorme sacada e consegue fluir de uma maneira bastante incomum e criativa. Outra coisa que merece destaque é a interação entre os participantes da equipe do filme dirigido por Ale, que em dado momento, vai surpreender muito o espectador. Impossível não comentar a química que existe entre Itsaso Arana e Vito Sanz, o que traz enorme credibilidade aos personagens – como os amigos do casal, também o espectador fica surpreso com a decisão deles, face a incrível sintonia entre Ale e Alex. Os dois intérpretes estão ótimos, mas vi mais espessura no trabalho de Itsaso Arana como Ale – a personagem me pareceu mais profunda e complexa do que Alex. O filme é muito gostoso de ver, frui com facilidade e instiga não só as emoções, mas também algumas reflexões sobre o amor romântico e os relacionamentos. Eu adorei e recomendo! Assistido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. PS – Eu também quero um “Tarô do Bergman”!!!!
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