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hikafigueiredo

“Avanti! Amantes à Italiana”, de Billy Wilder, 1972

Filme do dia (86/2023) – “Avanti! Amantes à Italiana”, de Billy Wilder, 1972 – Wendel Ambruster Jr. (Jack Lemmon) viaja às pressas de Nova York para uma distante ilha italiana para despachar o corpo de seu pai, o magnata Wendel Ambruster, recém falecido no local. Ao aportar na ilha, descobre que seu pai estava na companhia de uma amante de longa data, que também falecera no mesmo acidente. Ali ele conhece Pamela Piggott (Juliet Mills), filha da amante de seu pai, que fora ao local para cuidar dos trâmites relativos à sua mãe, oportunidade em que surge uma estranha tensão entre ambos.





Nesta gostosa comédia romântica, umas das últimas de Billy Wilder, temos, novamente, a ótima dobradinha do diretor com o ator Jack Lemmon. Adequando-se à época, começo dos anos 1970, Wilder deixa de lado as comédias muito ingênuas e realiza uma obra na qual já temos uma boa dose de malícia e praticamente nenhum moralismo ao narrar a história de amor entre um homem casado e sua amante. Claro que existe, ali, uma crítica à hipocrisia e ao falso puritanismo, uma vez que o magnata Wendel Ambruster – assim como seu filho – cultivava uma imagem de integridade, homem “de família” e pilar da moral e dos bons costumes, a qual cai por terra ao ter seu segredo exposto para seu herdeiro (que, logicamente, para evitar um escândalo e um desgaste desnecessário, oculta a informação de todos). Wilder, no entanto, não compactua dessa moralidade hipócrita e revela uma história de amor sincera entre os amantes recém-falecidos – os encontros anuais dos envolvidos vêm envoltos numa aura de afeto e cumplicidade inaceitável para a sociedade. Fiquei surpresa pelo fato de Wilder ousar em algumas cenas de nudez – nunca tinha visto isso em qualquer obra do diretor -, ainda que sejam passagens bem pouco erotizadas e quase inocentes (espectadores, aceitem a bunda murcha de Jack Lemmon!!! Rs). No filme, Wilder ainda “cutuca” algumas questões relacionadas aos estereótipos, tanto dos norte-americanos, quanto dos italianos e ingleses (a última, a nacionalidade da amante do magnata e da filha dela). O diretor também trata com fina ironia algumas questões políticas dos EUA – são alfinetadas discretas, sutis e bem passageiras, mas evidentemente críticas à política externa norte-americana. Numa postura ultra contemporânea, Wilder discorre, ainda, sobre os padrões estéticos impostos às mulheres: Pamela é obcecada por seu peso e pelo formato de seu corpo, considerando-se gorda, baixinha e feia - lembrando-se que, na época, o padrão estético desejado era o da esquálida modelo Twiggy -, o que nem de longe impediu que Wendel Jr. se encantasse por ela. Claro que existem, aqui ou ali, passagens que, nos dias de hoje, seriam consideradas machistas, ofensivas ou inadequadas (como a perseguição de Pamela pelos marinheiros, que, atualmente, seria interpretada como uma violência absurda e sem qualquer humor), mas vamos lembrar que muitas coisas eram naturalizadas naquele tempo. A narrativa é linear, em ritmo marcado. A atmosfera é leve, mas repleta de malícia e ironia sutis. O destaque fica por conta das maravilhosas locações italianas, muito bem aproveitadas por planos abertos, enquadramentos sofisticados e uma bela fotografia colorida brilhante e de cores saturadas. O elenco traz o sempre (sempre!!!) ótimo Jack Lemmon – acho incrível como sua veia cômica afasta completamente o fato do ator nem de longe se encaixar no padrão galã, de forma que ele ocupa, muito à vontade, esse papel de protagonista (mesmo com sua bunda murchinha à mostra rs). Aqui, Jack Lemmon interpreta o inicialmente escandalizado e rabugento Wendel Jr, que, progressivamente, torna-se mais afável e gentil; Juliet Mills interpreta a doce Pamela que, insatisfeita consigo própria, sente-se o próprio patinho feio. A atriz – que, por qualquer motivo, me lembrou, fisicamente, muito, a atriz Kirsten Dunst – está ótima da personagem, despertando imediata simpatia do espectador. O elenco traz, ainda, Clive Revill como o gerente do hotel Carlo Carlucci, o aliado dos amantes apaixonados, ótimo no papel. O filme foi indicado a seis categorias do Globo de Ouro (1973) – Melhores Ator, Atriz, Ator Coadjuvante, Roteiro, Filme e Diretor (em filme cômico ou musical). A obra é gostosinha, traz aqueles diálogos rápidos característicos do cinema de Billy Wilder, faz algumas críticas pertinentes e é muito agradável de se assistir. Gostei e recomendo.

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