Filme do dia (13/2025) – “Boa Sorte, Leo Grande”, de Sophie Hyde, 2022 – Após um casamento sexualmente insatisfatório de 31 anos, a recém viúva Susan (Emma Thompson) resolve contratar o garoto de programa Leo Grande (Daryl McCormack) para descobrir, finalmente, o que é o prazer sexual.

Escutei sobre esse filme algumas vezes. Em todas, o destaque para o fato da protagonista ser uma mulher madura, que precisa lidar com sua autoestima face ao seu envelhecimento e todas as modificações corporais que advêm disso. Resolvi assisti-lo, certa de que haveria uma grande identificação por conta da minha condição de mulher entrada em anos (aka, coroa rs). Nah, não foi exatamente o que aconteceu, muito por conta de uma leitura equivocada de todos aqueles que comentaram o filme para mim. O menor dos problemas da protagonista é a questão da maturidade – ela existe e é colocada na narrativa, mas o problema é infinitamente maior que isso. Susan é uma mulher completamente reprimida – não apenas sexualmente, mas em todo seu comportamento. Uma mulher que jamais se colocou como prioridade, que não questionou regras e convenções, que não arriscou, ousou ou se permitiu. Isso é muitíssimo diferente de uma mulher abalada pelo etarismo ou pelas mudanças corporais que o tempo trouxe e são rechaçadas socialmente, mas que viveu uma vida plena. São coisas muito diferentes. Eu ouso dizer que a narrativa pecou por não focar em um único aspecto e por tentar abraçar questões por demais amplas. Eu saí com uma sensação amarga de que é muito mais fácil tratar do assunto do desejo feminino na maturidade com exagero do que com as sutilezas que ele mereceria. É mais simples trabalhar o tema a partir de uma mulher madura completamente reprimida e cheia de tabus do que partindo de uma mulher madura livre, vivida, consciente das suas potencialidades e limitações e que se encontra frustrada pelos estereótipos impostos pela sociedade. Eu me pergunto o motivo de escolher como protagonista uma mulher tão dissociada de seus desejos e prazeres. Isso existe? Claro que existe, mas, pela minha experiência com as mulheres maduras que conheço, não é mais tão comum como há trinta ou quarenta anos. Eu fiquei incomodada porque, se por um lado o filme entoa um hino de libertação, por outro o faz de um ponto de partida que reforça uma ideia equivocada de mulher madura, a qual seria reprimida, sem voz e sem posicionamento, necessariamente. E não é a única questão envolvendo a protagonista que me incomodou – Susan parece tão sem traquejo social, tão ingênua, por horas, tão desesperada por... vida, ela é desesperada pela vida!!!! Ela toma mais de uma atitude equivocada, ela chega a ser sem-noção – essa é a visão inicial da mulher madura que a sociedade tem? Misericórdia! Eu fui ler as críticas do filme e fiquei boquiaberta como o público – possivelmente jovem – aceitou tão bem aquela personagem tão extemporânea, pois mais adequada aos anos 50 que à atualidade! Enfim... achei que o filme perdeu uma grande chance de mostrar outras questões bem mais factíveis relacionadas à sexualidade da mulher madura. A narrativa é linear, em ritmo lento e espacialmente limitada – praticamente tudo se passa em um único cenário, quase sentimos claustrofobia no filme. A atmosfera pode até ter sido libertadora para parte do público, mas para mim foi amarga, e, muito embora um final que acene com esperanças, trouxe para mim um sentimento de verdadeiro vazio existencial – mulheres maduras NÃO são aquilo que o filme traz, não aos meus olhos e pelo meu conhecimento. Sinceramente, poderia falar sobre esse filme e seus muitos aspectos até amanhã, por isso, vou me limitar. Vale a pena falar sobre Emma Thompson: grande atriz que é, ela se expôs de diversas formas ao longo da história, inclusive através de um lindo nu frontal aos 65 anos de idade. Sua interpretação é perfeita (meu problema é com a concepção da personagem, não com o trabalho da atriz, impecável). Também vale comentar sobre o ator Daryl McCormack – além de lindo, ele traz grande sensibilidade ao personagem, inclusive com nuances muito humanizadas, como sua necessidade de autopreservação. Hmmm... pensei se não haveria um recorte racial nessa narrativa – o fato de o garoto de programa ser negro não seria uma sexualização/objetificação do corpo negro? Não sei, mas acho que rolaria uma problematização interessante aí. Para concluir, o filme me frustrou, esperava algo diferente. Certamente a obra manteve minha atenção constante, mas esperava outra abordagem e, principalmente, outro “ponto de partida”. O filme foi indicado a várias categorias do BAFTA (2023), inclusive Melhor Filme Britânico, Melhor Ator e Melhor Atriz e ao Globo de Ouro (2023) de Melhor Atriz em comédia (não obstante não entenda o filme como uma comédia). Não detestei, mas tenho MUITAS ressalvas a ele. Disponível em streaming pela Netflix, Prime Video, Telecine, dentre outros.
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