“Calvário”, de John Michael McDonagh, 2014
- hikafigueiredo
- há 3 dias
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Filme do dia (20/2025) – “Calvário”, de John Michael McDonagh, 2014 – James (Brendan Gleeson) é um ético e bem-intencionado padre de uma pequena paróquia no interior da Irlanda. Ao ser ameaçado de morte por um fiel em meio a uma confissão, James percebe a fragilidade de sua vida e se questiona se está preparado para enfrentar seu próprio calvário.

Neste drama intimista e incômodo deparamo-nos com temas amplos e variados, que mexem com as noções de certo e errado do espectador. De um lado temos um religioso correto, empático, ético, dedicado e coerente; de outro, um paroquiano vítima de violência sexual na infância partindo de um padre. Revoltado pelas violências que sofreu quando criança, o fiel entende que, para chamar a atenção da sociedade, ele precisa tomar uma medida drástica, que choque as pessoas e as tire da sua inércia. Nesse sentido, acredita que sua melhor alternativa é assassinando o padre James, reconhecidamente um religioso dedicado aos seus paroquianos e fiel aos seus valores. Em uma confissão, ele avisa ao padre que lhe dará uma semana para que o religioso resolva qualquer questão pendente em sua vida, após o que o encontrará na praia para concluir seus planos, assassinando James. Iniciada a contagem regressiva, percebemos a angústia do padre, sua frustração por não conseguir resolver os problemas dos seus seguidores, o medo crescente e uma tristeza desoladora por perceber a injustiça da qual será vítima. Enquanto mergulha de cabeça nas aflições da alma do protagonista, o filme abraça a questão da pedofilia na Igreja Católica, expondo o quanto esse drama continua sendo uma ferida silenciosa e sem cura dentro da instituição religiosa e quantas vítimas tiveram suas infâncias maculadas por condutas hediondas de religiosos sem qualquer caráter ou compaixão. Nesse panorama, Padre James é o bode expiatório de um homem marcado por traumas do passado. Algo que me chamou a atenção e me perturbou foi a extrema e crescente animosidade com que, subitamente, os fiéis passam a tratar o protagonista. Por mais que Padre James esforce-se para ajudar e acolher os paroquianos, estes seguidas vezes o destratam, provocam, debocham, ameaçam e agridem o religioso. Não sei se a intenção do diretor foi fazer um paralelo entre o calvário de James e a via crucis de Jesus, em que, a cada passo, tudo se tornava mais opressor, mas sei que o tratamento dispensado ao padre foi gradativamente pior e mais violento. A narrativa é linear, em ritmo marcado e contínuo. A atmosfera é pesada, e como espectadora, senti a angústia do personagem. E a injustiça de toda a situação. O desfecho é brutal e há certa resignação que me deixou muito indignada. Apesar dos muitos sentimentos negativos envolvidos, gostei bastante do filme. Vale destacar o trabalho de interpretação impecável de Brendan Gleeson como Pastor James – a introspecção, as dúvidas, os medos, tudo está ali naqueles olhos! No elenco, ainda, Kelly Reilly como Fiona, e Chris O’Dowd como Jack, dentre outros. Tenho de dizer que o filme deixa a gente um tanto quanto depressivo, mas não deixa de ser um ótimo filme. Recomendo, mas tem que estar num bom dia. Segundo o Justwatch, a obra não está disponível em streaming, podendo ser vista em torrent ou mídia física.
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