Filme do dia (108/2024) – “Camelos Também Choram”, de Byambasurem Davaa e Luigi Falorni, 2003 – O cotidiano de uma família de pastores nômades da Mongólia é modificado quando uma de suas camelas dá a luz a um filhote albino e o rejeita. Seguindo a tradição local, eles precisam “convencer” a camela a aceitar o filhote através da música.
O filme se trata de um documentário cuja evidente intenção inicial era registrar o cotidiano de uma família de pastores nômades do Deserto de Gobi, na Mongólia. Ocorre que, no meio do processo, nasce, no rebanho de camelos da família, um raro filhote albino, o qual é imediatamente rejeitado pela mãe. O documentário, então, sofre uma guinada e começa a acompanhar o drama dos pastores para fazer a camela aceitar seu filhote. Seguindo a tradição, a família sai em busca de um músico que toque uma música para a camela para sensibilizá-la e, assim, aceitar sua cria. A obra é bem interessante ao mostrar a vida daqueles pastores, que sobrevivem em um ambiente inóspito como o Deserto de Gobi, somente com seus animais, sem quase qualquer contato com o mundo exterior. Sem energia elétrica, seu contato com o restante do mundo se dá por um pequeno rádio a pilha que o avô possui. Quando a camela rejeita o filhote, os filhos daquela família saem de suas terras, montados em seus camelos, e se dirigem a uma cidade da região para buscar o músico. É interessante ver as diferenças entre o cotidiano da família do interior e dos habitantes da cidade – enquanto os moradores do interior vivem segundo as tradições, com roupagem típica e hábitos centenários, a vida dos habitantes da cidade se aproxima daquela vivida por qualquer citadino, com carros, bicicleta, televisões e tudo que o consumismo capitalista é capaz de prover. Quando os meninos entram em uma venda, é possível observar, nas prateleiras, produtos mundialmente conhecidos, como, por exemplo, o sabão em pó Ariel. Também é registrado, no filme, o efeito destas “novidades” sobre os jovens meninos nômades, que retornam para casa pedindo aos pais por luz elétrica e televisão, para desgosto do avô. Por fim, é curioso assistir ao ritual de “convencimento” da camela, quando a pastora, acompanhada por um músico da cidade com seu instrumento musical típico, canta para o animal até fazê-lo “chorar”, sensibilizado pela música. Adianto, aos mais sensíveis, que o filme gera alguma agonia quando a camela começa a rejeitar o bebê camelo, mas o desfecho é feliz e alivia os corações mais aflitos. Achei muito bonitinho que, nos créditos finais, cada um da família é “destacado” com sua imagem e nome, inclusive a camela e seu filhote. O filme foi indicado a inúmeros prêmios de festivais diversos ao prêmio de Melhor Documentário, inclusive ao Oscar (2005) nesta categoria. É uma obra muito sensível e doce, daquelas que, ao término, deixa o espectador com um sorriso bobo na cara. Gostei bastante e recomendo. Segundo o Justwatch, disponível no streaming Kinopop (???).
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