Filme do dia (155/2023) – “Camisa de Força”, de John Maybury, 2005 – Iraque, 1991. O soldado Jack Starks (Adrien Brody) á atingido gravemente na cabeça durante uma operação de guerra. Dado inicialmente como morto, ele sobrevive milagrosamente, mas com sequelas, tendo em vista certa deficiência na sua memória. Ao voltar para casa, Jack envolve-se num incidente que o leva à prisão, mas, devido à sua condição, é enviado a um hospital psiquiátrico. No local, ele conhecerá o Dr. Becker (Kris Kristofferson), que o usará como cobaia em experimentos com uma nova droga.
Talvez possa parecer que eu entreguei metade do filme na sinopse, devido à quantidade de informações fornecidas. Não se engane – isso tudo acontece nos primeiros dez minutos da obra. O filme se trata de uma ficção científica com ares de drama e um toque de romance, no melhor estilo “mindfuck”, pois, a partir dos experimentos já mencionados, o protagonista irá vivenciar uma estranha e inexplicável experiência de viagem no tempo, reencontrando pessoas do seu passado em 2007, portanto, quinze anos após seu “presente”. Algumas questões que se colocam: o roteiro tem excessiva pressa em chegar ao momento da “viagem ao tempo”, pois importantes acontecimentos do passado que repercutirão no futuro são “jogados” muito superficialmente nos dez minutos iniciais da história. Assim, ao invés de formar uma “base sólida” para a narrativa, tem-se uma situação que se lastreia numa mera coincidência, bastante improvável, inclusive. Outro ponto que se coloca é que a experiência de viagem no tempo vivida pelo personagem não se sustenta muito na lógica (ah, você pode dizer que nenhuma história com esse tema se apoia na lógica, mas aqui existe um agravante que faz uma confusão bem esquisita entre o que é físico e o que é imaterial). Em todo caso, tratando-se de uma ficção científica, aqui até podemos abstrair a aceitar a lógica daquele universo ficcional para digerir melhor a história. Por fim, existe, na história, um elemento que me incomodou bastante - mas que eu não posso revelar por ser spoiler – que se liga a questões morais e toca, levemente, na ideia de pedofilia, mas isso pode ser apenas uma questão pessoal minha que não consegue digerir certos comportamentos bem comuns do universo masculino (se alguém já viu o filme e quiser falar a respeito, podemos conversar no privado). A narrativa é, obviamente, nada linear, num ritmo muitíssimo marcado. A atmosfera é de angústia, pois o personagem entra em uma corrida contra o tempo. Formalmente, o filme traz boas ideias para marcar a transição temporal – uma verdadeira tempestade de imagens, é bem interessante. A trilha musical, assinada por Brian Eno, é bem utilizada, evitando-se a tão comum manipulação através da música. Quanto às interpretações, temos um trabalho sólido do sempre ótimo Adrien Brody – ele consegue dar espessura mesmo para um personagem envolvido em uma situação tão pouco crível como a desse filme; Keira Knightley – que, para mim, é mais bonita do que boa atriz -, dá o seu melhor e entrega uma interpretação bem razoável; Kris Kristofferson, outro ótimo ator, traz um excelente trabalho, com destaque para a cena do reencontro; Jennifer Jason Leigh interpreta a Dra. Lorenson e, como de costume, está ótima; para encerrar, temos a participação de ninguém menos que Daniel Craig, quase irreconhecível de cabelos escuros, antes da fama como James Bond (um ano depois, ele estrearia no papel em “Cassino Royale”), aqui no papel de Rudy Mackenzie. A obra dialoga bem intimamente com o famosinho “Efeito Borboleta” (2004), mas com bem menos amargor. Olha... não é aqueeeeeeele filme, mas conseguiu prender minha atenção em um dia em que eu estava particularmente cansada, e, se eu não dormi, já quer dizer que ele tem algum mérito. Recomendo, mas sem tanto fervor.
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