Filme do dia (06/2024) – “Candy”, de Neil Armfield, 2006 – Um aspirante a escritor, Dan (Heath Ledger), envolve-se com uma jovem estudante de artes plásticas, Candy (Abbie Cornish). O casal vicia-se em heroína e, juntos, farão uma rápida descida ao inferno.
Junto com “Eu, Christiane F.” (1981), “Trainspotting” (1996) e “Réquiem para um Sonho” (2000), “Candy” faz parte daquelas obras que retratam a decadência física, financeira e moral dos que caem no vício em drogas pesadas, mais especificamente em heroína. Como se pode imaginar, é um filme pesado, que reflete os horrores vivenciados por quem só consegue pensar na próxima dose e fará qualquer coisa por isso. A obra divide-se em três capítulos: “Paraíso”, “Terra” e “Inferno” – devo dizer que discordo das denominações, já que, para mim, o capítulo “Terra” é infinitamente mais contundente que o “Inferno”. A degradação do casal começa ainda no primeiro capítulo, tornando-se cada vez mais profunda e sem chances de retorno. A narrativa é linear, em ritmo intenso e crescente. Lógico que a atmosfera é angustiante e, por vezes, repulsiva – há uma cena, em particular, que acontece em um hospital (sem spoilers), que pode ser bastante sensível, em especial para mulheres. Achei um pouco inverossímil a relação que se estabelece, em boa parte da história, entre os pais de Candy e o casal – bom, sei lá, se fosse filha minha a atitude seria diferente desde o início. Tecnicamente, o que mais me chamou a atenção foi o desenho de produção, que “acertou em cheio” na caracterização dos personagens e na sua decadência ao longo da narrativa, bem como na forma como o entorno dos personagens também vai se arruinando (que desespero naquele cabelo eternamente ensebado do personagem Dan, misericórdia). No geral, a narrativa é bastante convencional, sem qualquer ousadia estética ou de linguagem. Também merece destaque as interpretações de Heath Ledger como Dan, já despontando como o grande ator que era – o personagem mostra-se claramente “prejudicado” pelo uso da heroína e não demonstra qualquer aspiração, iniciativa ou querer que não esteja ligado ao uso da droga em questão; Abbie Cornish também está ótima como Candy (cujo apelido vindo do nome Candice também é uma alusão à heroína) – a personagem transforma-se ao longo da história e, diferente de Dan, que se mostra sempre passivo e indeciso, ela se torna cada vez mais agressiva, impulsiva e raivosa (as cenas de Candy “explodindo” e vociferando palavrões são as melhores); e Geoffrey Rush, talvez o melhor do trio, está estupendo como Casper, um professor de química igualmente viciado em heroína e que autoproduzia sua própria droga, tornando-se quase o mentor do casal. Adianto que o filme se desenvolve muito bem, mas tem um final meio chulé, do qual eu sequer me lembrava (esta é uma review) e que me deixou meio “nhé”. Em todo caso, não deixa de ser um filme no mínimo educativo para quem pensa que as drogas são muito legais, uhu... Recomendo sem alarde.
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