Filme do dia (252/2021) - "Cantando na Chuva", de Gene Kelly e Stanley Donen, 1952 - 1927. A dupla de atores Don Lockwood (Gene Kelly) e Lina Lamont (Jean Hagen) faz o mais famoso par de Hollywood, atraindo multidões às salas de cinema. O advento do cinema sonoro, no entanto, poderá por um fim à parceria.
Há anos protelando, hoje resolvi escrever sobre o meu filme "coringa" - a obra que eu sempre vejo quando preciso dar um "up" no astral. Na minha opinião, o melhor musical já feito, falar bem do filme é "chover no molhado" (ops, perdão ao trocadilho involuntário), pois não é necessário gostar nem de musical, nem de comédia, nem de romance para admirá-lo - basta gostar de cinema. A obra discorre sobre um momento crucial da sétima arte - a passagem do cinema mudo para o cinema sonoro, ocasião em que dezenas de intérpretes, do dia para a noite, tiveram suas carreiras destruídas por não se adaptarem aos "novos tempos". Essencialmente metalinguístico, o filme retrata uma dupla de atores - o pretenso casal Don Lokwood e Lina Lamont - que precisa se reinventar para se manter na Hollywood do cinema falado. Brincando com as questões técnicas que se apresentavam - como a dificuldade em posicionar microfones ou a incapacidade dos atores decorarem as falas do roteiro - e aproveitando as possibilidades que o gênero musical oferece, a obra dosa, com perfeição, as cenas cômicas e românticas e traz alguns dos mais famosos números musicais do cinema, como a icônica cena de Gene Kelly cantando "Singin' in the Rain" - a mais famosa, certamente, mas não a única importante do filme. É impossível gostar de cinema e não gostar dessa obra, até mesmo para quem detesta o gênero musical, é sério, porque ela é absolutamente "redonda". O roteiro - escrito somente depois de decididos todos os números musicais - é enxuto e faz com precisão cirúrgica as passagens entre as cenas musicais e não-musicais, não caindo nas esquisitices comuns dos musicais. Curiosamente, só uma música foi escrita para o filme (e não é "Singin in The Rain"), sendo, as demais, músicas pré-existentes, aproveitadas ou não em outros musicais. O filme traz algumas das melhores coreografias já montadas para o cinema e, com frequência, resvalam para o humor. O ritmo é ágil e constante e a atmosfera é de altíssimo astral. O filme alterna cenas P&B (relacionadas às cenas das produções de cinema da época) e coloridas, apostando numa fotografia contrastada, de cores muito saturadas, no segundo caso. Se na parte não musical a câmera se mostra fixa, sem grandes ousadias, nos números musicais ela se mostra muito mais "solta", apostando em movimentos de travelling e em panorâmicas e em enquadramentos bem mais criativos e sofisticados. Os números musicais são tão, mas tão bons, que é difícil destacar apenas um ou dois - claro que a música tema é a mais famosa e clássica, mas "Make'em Laugh", "Good Morning" e "Moses" não ficam muito atrás. O elenco é formado por: Gene Kelly no papel de Don Lockwood, que além de atuar, foi co-diretor e coreógrafo da obra, e mostra toda a sua versatilidade em cena, estando ótimo tanto nas cenas cômicas, quanto nas românticas, e arrasando, claro, nos números musicais; Donald O'Connor interpreta Cosmo Brown, melhor amigo de Lockwood, e o grande alívio cômico da narrativa, trazendo um humor físico impressionante e muita energia para os números de dança (eu simplesmente adooooooro a cena de "Make'em Laugh", protagonizada por ele); Debbie Reynolds interpreta Kathy Selden, o par romântico de Lockwood, também perfeita no papel; e Jean Hagen interpreta Lina Lamont, a víbora que todo o público ama odiar, revelando um surpreendente talento cômico, impagável em cena. Cyd Charisse aparece em uma única cena (a do musical na Brodway), mas é tão marcante que não posso deixar de pontuá-la - seu dueto com Gene Kelly traz toda a sensualidade que falta nas cenas entre ele e Reynolds, uma vez que a personagem Kathy mostra-se meiga e inocente. O filme é todo, inteiro, perfeito, e tem um poder único de animar até um morto! Donald O'Connor foi agraciado com o Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia pelo papel e não consigo imaginar ninguém mais merecedor desse prêmio que ele. Acho que poucas pessoas ainda não viram essa obra, ela é um clássico entre os clássicos, mas ela merece ser revisitada infinitas vezes. Amo de paixão, já perdi o número de vezes que já vi e recomendo para todo e qualquer espectador!!!
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