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  • hikafigueiredo

“Carandiru”, de Hector Babenco, 2003

Filme do dia (92/2024) – “Carandiru”, de Hector Babenco, 2003 – Durante o final da década de 80/começo da década de 90, um médico sanitarista, Dr. Dráuzio Varella (Luiz Carlos Vasconcelos), voluntaria-se para fazer um trabalho de prevenção da AIDS bem como de tratamento, para os detentos do Carandiru, maior estabelecimento prisional do mundo na época. Através de seu trabalho, ele conhecerá não apenas o cotidiano brutal do presídio e dos presos, mas, também, suas histórias comoventes.





Baseado no livro “Estação Carandiru”, de Dráuzio Varella, e filmado realisticamente no interior do presídio - após sua desativação e antes de ser implodido - o filme narra parte da experiência do médico dentro do estabelecimento prisional enquanto realizava um trabalho voluntário para prevenção e tratamento da AIDS entre os prisioneiros. A narrativa é formada por várias pequenas histórias, resgatadas pelas memórias de Dráuzio Varella, o qual assume o papel de ouvinte dentro do presídio. Sem julgamentos morais, a obra retrata o cotidiano desumano da prisão, o código de honra dos presos, os acontecimentos que levaram alguns dos prisioneiros ao cárcere, bem como uma perspectiva mais humana daqueles homens encarcerados, os quais, muito embora criminosos, também exibiam um lado frágil e romântico. A questão do tráfico e consumo de drogas no interior do presídio também é abordada, além de, claro, a disseminação da AIDS dentro do Carandiru, foco do trabalho do médico. Por fim, em seu clímax, a obra trata da invasão do presídio pela polícia durante uma rebelião no Pavilhão 9, a qual levou à morte 111 presos, ficou conhecida como “o Massacre do Carandiru” e acabou levando à desativação do presídio alguns anos depois. Através do filme, tomamos contato com algumas informações sobre o local – construído para abrigar dois mil homens, na época ele contava com cerca de oito mil presos, vivendo, obviamente, numa situação degradante, não apenas pela superlotação, mas por toda uma série de condições extremamente brutalizantes que iam da falta de higiene ao tratamento dispensado pela polícia. Também acompanhamos a lógica do funcionamento da prisão, a qual era controlada pelos próprios detentos e tinha regras rígidas de convivência, baseadas num severo código moral e de honra dos presos. Mas, para mim, a parte mais interessante do filme é justamente a que humaniza os presos, mostrando seus sonhos, suas relações familiares e amorosas e suas aspirações futuras, e deixando claro que o pior dos criminosos ainda pode ser um pai amoroso, um companheiro íntegro ou um amigo fiel. A narrativa é linear, muito embora conte com vários flashbacks sobre as histórias dos prisioneiros. O ritmo é marcado e crescente, explodindo num clímax quando da invasão do presídio pela tropa de choque. A atmosfera é pesada, perturbadora, claustrofóbica, causando não apenas angústia no espectador, mas, ainda, certo sentimento de indignação face àquela realidade. Formalmente, o filme aproxima-se de um documentário – filmado, em grande parte, nas próprias instalações do presídio, contou com um elenco de apoio e figuração montado por ex-detentos, ainda que os papeis principais tenham sido assumidos por atores profissionais. A fotografia colorida é bem contrastada, por vezes um pouco escura dada a locação. Temos, principalmente, planos médios e próximos, posicionamentos de câmera convencionais e uso intenso de “molduras” (imagens “emolduradas” por grades, portas e pelas portinholas através dos quais os agentes penitenciários observavam o interior das celas). A trilha musical, assinada por André Abujamra, surge em momentos pontuais e mais dramáticos. O elenco não poderia ser mais “estrelado”, sendo formado por nomes como Wagner Moura, Claio Blat, Rodrigo Santoro, Milhem Cortaz, Milton Gonçalves, Lázaro Ramos, Maria Luiza Mendonça, Gero Camilo, Ricardo Blat, Floriano Peixoto, dentre outros, todos com um trabalho sólido e tocante. O papel de Dráuzio Varella foi muito bem assumido por Luiz Carlos Vasconcelos, o qual consegue transmitir uma sensação de empatia e segurança vitais ao personagem. O filme é espetacular em todos os aspectos, do roteiro às interpretações, e, especialmente, por seu teor extremamente humano e empático, que deixa de lado um ímpeto revanchista em relação àqueles homens e os acolhe, abrindo espaço para suas histórias e vozes. Sensacional!!!! Destaque para todo o arco da invasão, mas, principalmente, para a cena em que os presos são colocados sentados nus no pátio, em um plano bem aberto – a força dessa imagem é avassaladora!!! Eu gosto demais do filme e recomendo MUITO!!!! O filme está disponível em vários streamings – Netflix, Amazon Prime, Globoplay, Apple Tv e até no Youtube, então não tem desculpa para não o ver!!!!!

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