Filme do dia (105/2024) – “Carmen”, de Carlos Saura, 1983 – Antonio (Antonio Gades) é um diretor de teatro e coreógrafo que prepara uma versão flamenca da ópera “Carmen”, de Bizet. Ele busca uma jovem dançarina que interprete a protagonista, mas nenhuma tem o apelo que ele procura, até que conhece Carmen (Laura del Sol), que, muito embora não seja uma dançarina excepcional, traz a petulância que busca para a personagem. Ao longo dos ensaios, Antonio se envolve com Carmen, sem perceber que o destino da dançarina e da personagem se entrelaçam gradativamente.
Segundo filme da Trilogia Flamenca, de Carlos Saura, “Carmen” é uma versão flamenca da ópera homônima, de Georges Bizet. A narrativa é composta por dois universos – o do ensaio (primeiro universo ficcional ou “realidade”) e o da ópera (segundo universo ficcional ou “ficção”). A obra traz uma evolução da linguagem usada no filme que o precede – “Bodas de Sangue” (1981); se no filme anterior acompanhamos o ensaio de uma peça de forma a quase esquecermos que se trata de um ensaio, aqui existe uma verdadeira fusão entre os dois universos ficcionais, a ponto de o espectador se perder entre os dois âmbitos, não sabendo onde começa um e acaba o outro. Para trazer um realismo maior, o diretor ainda fez uso dos nomes verdadeiros dos intérpretes, com exceção da atriz que interpreta Carmen, cujo nome real é Laura. Assim, a narrativa traz um paralelismo entre a Carmen, dançarina de flamenco no primeiro universo ficcional e a personagem da ópera – ambas são sedutoras, intensas e profundamente dissimuladas, envolvendo, segundo seu interesse, os homens que a rodeiam. Não vou entrar no mérito do profundo machismo estrutural contido na história da ópera, já uma versão do conto homônimo de Prosper Mérimée, cujo desfecho violento desemboca em um assustador gatilho para as mulheres em geral, afinal ambas são obras que remontam ao século XIX e seria “chover no molhado”. Fato é que o filme de Saura captou com precisão e sensibilidade a essência do conto e da ópera, colocando, ainda, os elementos da cultura flamenca. É um filme com uma atmosfera sensual e provocativa, uma obra intensa, como é o flamenco. A fotografia da obra é bem menos movimentada e participativa do que a do filme que a antecede – se em “Bodas de Sangue” a câmera conduzia o olhar do espectador, transformando-se quase em um personagem, um narrador, aqui ela é mais passiva, observadora, diante de muitos planos abertos e não recortados. Voltamos com a trilha musical flamenca, só que com um elemento adicional – a participação do maior violonista de todos os tempos, Paco de Lucia (meu ídolo da adolescência, quando estudante de violão clássico), então espere a melhor música flamenca que vocês poderiam encontrar! As coreografias permanecem maravilhosas e intensas, principalmente pela participação de Antonio Gades e Cristina Hoyos. Laura del Sol traz à sua Carmen um olhar sedutor e penetrante e muito vigor às coreografias (ainda que eu ache Cristina mais expressiva). O filme foi indicado a Melhor Filme Estrangeiro no Oscar (1984), no César (1984), no BAFTA (1985) e no Globo de Ouro (1985), mas, infelizmente, ficou só na indicação. Eu AMO esse filme, deve ser a terceira ou quarta vez que o vejo e o acho cada dia melhor, mais pungente e intenso!!! Recomendo demais!!!! Segundo o Justwatch, o filme está disponível no Apple Tv (aluguel ou compra), na Amazon Vídeo (aluguel ou compra) e no Looke (streaming).
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