Filme do dia (71/2024) – “MaXXXine”, de Ti West, 2024 – Los Angeles, início da década de 1980. Reencontramos Maxine Minx (Mia Goth), agora alçada à estrela pornô. A jovem, entretanto, continua em busca da fama fora do nicho do entretenimento adulto e fará qualquer coisa para alcançar o estrelato.
Fechando a trilogia iniciada com “X – A Marca da Morte” (1922) e continuada por “Pearl” (2022), a obra retoma a anti-heroína Maxine, do primeiro filme, agora alçada a estrela em filmes adultos. Diferentemente do que eu supunha, uma vez que eu acreditava que a personagem Maxine seria quase uma releitura da personagem Pearl, encontramos uma protagonista bem menos “psycho” do que sua antecessora. Ainda que as duas personagens guardem semelhanças por conta de sua determinação em busca do estrelato, Maxine mostra-se infinitamente mais centrada e menos violenta que Pearl – enquanto a última assume uma postura de predadora, na ampla acepção da palavra, Maxine está muito mais para uma sobrevivente, alguém que não se deixa abater e que, se cair, cairá lutando. Confesso que uma das coisas de que mais gostei no filme foi justamente essa construção da personagem – não a vejo, como cheguei a ler por aí, como uma vilã e confesso que vejo profundo machismo nessa leitura. Maxine é, sim, uma mulher ambiciosa, determinada e que não abaixa a cabeça – características sempre muito elogiadas em homens, mas, quando em mulheres, objeto de críticas imensuráveis. A protagonista, em momento algum, parte para uma violência gratuita, ela não é uma assassina em série como Pearl. Certamente sua reatividade ultrapassa o desejável, mas, como já disse, ela é uma sobrevivente – sobreviveu a um pai fanático e abusivo (há uma clara menção a um provável abuso sexual, inclusive), sobreviveu a uma serial killer e sobreviveu no inóspito ambiente do entretenimento adulto, seja como profissional do sexo seja como estrela pornô; ora, diante deste histórico, não surpreende que a personagem tenha desenvolvido um senso de sobrevivência digno de um campo de batalha e uma disposição anormal para a violência. Assim, não a vejo como vilã, mas como anti-heroína, com bem mais virtudes do que defeitos. Como os demais filmes da trilogia, “MaXXXine” traz elementos do giallo italiano e do slasher, com muito sangue envolvido e uma ou outra cena mais gore – achei a balança equilibrada, mas adianto que não sou fã de cenas muito explícitas, então, para quem gosta, talvez a obra seja muito “leve”. A narrativa é linear, com algumas poucas cenas em flashback, em ritmo marcado. A atmosfera é de tensão crescente – a aproximação do perigo, no entanto, parece abalar muito mais o espectador do que a personagem Maxine, que se mostra blasé por um bom tempo até assumir uma postura mais alerta. Gostei muito do desenho de produção de época do filme – achei a caracterização dos espaços e dos personagens bem coerentes com o período retratado. Gostei demais das inúmeras referências cinematográficas do filme – como a obra discorre sobre os bastidores do cinema, há, lógico, diversas referências ao assunto ao longo da narrativa, possuindo um forte elemento metalinguístico. Considero o filme o mais comportado da trilogia, tanto pelas poucas cenas de nudez e sexo – muito embora o ganha-pão da personagem -, quanto pelas cenas de violência. Quanto às interpretações, o filme - sem dúvida e como os demais – É Mia Goth – ela está incrível como Maxine, uma força da natureza, seu trabalho é irretocável!!!! Sim, estou cada vez mais fã da atriz!!!! Além dela, temos Kevin Bacon, igualmente ótimo como o estereotipado detetive mau-caráter e vilanesco John Labat; Elizabeth Debicki como Elizabeth Bender, muito bem; Giancarlo Esposito como o agente Teddy Knight; dentre outros. Eu gostei bastante do filme - ainda que não alcance o nível de “Pearl”, muito superior aos demais da trilogia – ele “me pegou” e me diverti demais com ele. Para curtir a obra, é necessário, claro, que se goste de terror, thriller, slasher e giallo, mas, dentro disso, é uma obra bem bacana e eu recomendo (se essa não é a sua praia, nem perca tempo, você vai odiar rs). Atualmente nos cinemas, no circuito comercial.
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