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hikafigueiredo

“O Ano Novo que Nunca Veio”, de Bogdan Muresano, 2024

Filme do dia (144/2024) – “O Ano Novo que Nunca Veio”, de Bogdan Muresano, 2024 – 20 de dezembro de 1989, Romênia. Enquanto o ditador Nicolae Ceausescu prepara as comemorações de Natal, que incluem um pronunciamento dele próprio, as ruas do país estão lotadas de manifestações pelo fim do governo ditatorial. Seis pessoas, cuja relação se limita a viverem na mesma cidade de Bucareste, encontram-se às voltas com problemas ligados ao governo e não sabem como resolvê-los.




 

Neste drama histórico aplicado em retratar as vésperas da derrocada do regime ditatorial de Nicolae Ceausescu, acompanhamos um dia na vida de seis pessoas que vivem em Bucareste e estão, de alguma forma, envolvidos com problemas relacionados ao governo. As histórias de cada um dos personagens se desenvolvem em paralelo e têm, em comum, o profundo descontentamento dos retratados quanto à realidade política de seu país. Dos fragmentos, é possível extrair a repressão e violência daquele governo, que calava os opositores e atemorizava toda a população do país, além da crescente revolta contra aquela situação. A história discorre, ainda, sobre resistência e esperança, os motores que restavam aos romenos naquele momento. A narrativa é linear, em ritmo lento, mas que ganha velocidade à medida em que nos aproximamos do desfecho. A atmosfera inicial é de desalento, mas, paulatinamente, cresce o clima de revolta e tensão, “explodindo” ao final num sentimento de catarse coletiva bem interessante. Se o começo do filme não estava me instigando, alerto que a obra cresce demais na meia hora final, quando, além de um refinado humor ácido que surge, temos também o aumento vertiginoso de tensão. As cenas finais, dedicadas a imagens reais do dia 21 de dezembro de 1989, oportunidade em que Ceausescu finalmente foi deposto, são impactantes – eu fiquei sinceramente arrepiada de como o diretor conseguiu costurar as histórias fictícias dos personagens com aquelas reportagens jornalísticas mostradas. Muito feliz, ainda, a trilha musical utilizada nas cenas finais: “Bolero”, de Ravel, uma música que tem essa característica de “crescimento”, de direcionamento a um apogeu; casou perfeitamente e ainda aumentou, de maneira vertiginosa, o nosso envolvimento com toda aquela situação. Outros destaques: a câmera na mão, com enquadramentos imperfeitos e muito movimentada, que traz uma impressão de documentário às imagens e ajuda na aproximação do espectador daquela realidade; o desenho de produção de época, que consegue transmitir a sobriedade – ou melhor dizendo, a profunda tristeza – imposta a tudo pelo governo; e as boas interpretações, com destaque para Nicoleta Hancu como a atriz Florina, Emilia Dobrin como a idosa Margareta e Adrian Vancica como Gelu (o pai do menino da carta). O filme é ótimo, apesar do início um pouco engessado (o desfecho compensa). Eu gostei e recomendo. Assistido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.                            

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