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hikafigueiredo

"O Diário de um Padre", de Robert Bresson, 1951

Filme do dia (121/2018) - "O Diário de um Padre", de Robert Bresson, 1951 - Um jovem padre (Claude Laydu) é enviado para assumir sua primeira paróquia, no pequeno vilarejo de Ambricourt. O padre tem a saúde frágil e quase não consegue se alimentar, mas assume, com coragem, sua responsabilidade, apesar da recepção gélida da população local. Paulatinamente, o pároco aprofunda um estado depressivo, ao mesmo tempo em que seus fiéis demonstram sua antipatia pela sua pessoa.





Como "Mouchette", a obra baseia-se em um livro de Georges Bernanos e, da mesma maneira, habita um universo de sofrimento, angústia e dúvida. Enquanto a pequena Mouchette ardia em rancor, o jovem padre desta obra afunda num estado de desalento, convivendo com uma depressão crescente que, no entanto, não o impede de continuar seus afazeres religiosos. Como Mouchette, ainda, o padre também é alvo de comentários maledicentes, caluniosos e, acima de tudo, cruéis por parte da população, mas, ao invés de mágoa, essa conduta o instiga na sua fé. Todos os obstáculos criados pelos aldeões, no entanto, colaboram para a deterioração da saúde do padre que, pouco a pouco, deixa de se alimentar. Discorre-se, ao longo do filme, sobre questões religiosas, nunca de uma forma doutrinária, mas crítica e racional. A obra é angustiante, pesada, e mostra ser a tônica recorrente do diretor. O ritmo é lento e a narrativa transcorre de maneira penosa, como o movimento em um pântano, dada a temática densa, eximiamente trabalhada pelo diretor. A fotografia P&B é belíssima e não são poucas as cenas que parecem verdadeiras pinturas. O grande destaque fica por conta da fantástica interpretação de Claude Laydu - o ator consegue transparecer em sua expressão tanta angústia, tanto desalento, que é impossível, para o espectador, não senti-los quase na mesma medida. Mais adaptada à forma e à linguagem trabalhadas por Bresson, eu me envolvi mais com esse filme, colocando de lado a frustração sentida com "Mouchette" (preciso rever essa obra, certeza que eu estava num "mau dia"). A obra é maravilhosa, Bresson é um diretor fenomenal, no nível de Ingmar Bergman, Andrei Tarkovski, Akira Kurosawa. Recomendadíssimo.

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