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hikafigueiredo

“O Domínio do Olhar”, de Michael Crichton, 1981

Filme do dia (26/2023) – “O Domínio do Olhar”, de Michael Crichton, 1981 – O mais badalado cirurgião de Beverly Hills, o Dr. Larry Roberts (Albert Finney), é envolvido em uma complexa trama policial, quando duas clientes suas, modelos de comerciais, são misteriosamente assassinadas.





Este é um filme peculiar, porque ele pode ser analisado de maneiras muito diferentes sob dois aspectos diversos. Se pensarmos em seu conteúdo, encontramos uma obra bastante crítica, que toca em pontos sensíveis do sistema capitalista e dos meios de comunicação de massa que se desenvolvem a partir dele. O filme trata, dentre outros temas: da manipulação midiática; do controle político da população à partir dos meios de comunicação de massa (em especial, a televisão); da falta de crítica do público, que absorve informações sem fazer qualquer ponderação acerca delas; do poder da publicidade; da criação e solidificação de modelos sociais, sejam esses de comportamento, consumo, estéticos, etc; o estabelecimento de padrões estéticos surreais e quanto as pessoas (particularmente, as mulheres) se sujeitam e perseguem tais padrões; a inserção de novas tecnologias no cotidiano da população e o uso pouco ético deste novo conhecimento. Ainda sobre seu conteúdo, o filme aborda a questão do “olhar”, quase como um fetiche, retomando o “voyerismo” de obras como “Janela Indiscreta” (1954) e “A Tortura do Medo” (1960) e abrindo espaço para o posterior “Dublê de Corpo” (1984). Estas todas são obras em que a ação de “olhar” alcança um status de obsessão, algo que consome a vida de quem olha, figurativamente ou não. Considerando o conteúdo da obra, ela é incrível, pois aborda criticamente toda essa gama de temas de uma maneira leve e de fácil compreensão, ainda que, em alguns deles, pudesse aprofundar um pouco mais a discussão, caso dos padrões estéticos. Aliás, cabe, inclusive, questionar o padrão estético eurocêntrico apresentado no filme (isso aqui daria pano para a manga). Agora, se analisarmos o filme do ponto de vista cinematográfico, surgem alguns “poréns”, muito embora não invalidem totalmente a obra. A fragilidade maior do filme, ao meu ver, encontra-se no desenvolvimento do roteiro, pois existem questões que não são esclarecidas completamente, assim como percebi alguns “saltos” na narrativa que pareceram um tanto quanto aleatórios. Sem cair em “spoilers”, o que mais me incomodou foi a gratuidade do assassinato das jovens envolvidas – o filme chegou ao seu final e eu não consegui entender o motivo das modelos serem perseguidas e assassinadas logo após tornarem-se “milimetricamente perfeitas”. Confesso que achei estranha essa fragilidade do roteiro, considerando que Michael Crichton é um roteirista de mão cheia, responsável por obras fantásticas como “Westworld” (1973) e “Jurassic Park” (1993), o primeiro também dirigido por Crichton, motivo pelo qual desconfio que a obra possa ter sido desfigurada na edição. Por outro lado, o roteiro constitui um bom thriller de ficção científica, que envolve e instiga o espectador. A narrativa é linear, em ritmo intenso. A atmosfera é de tensão leve, aumentando à medida em que avançamos na história. A qualidade técnica é padrão Hollywood, sem grandes destaques – a linguagem cinematográfica é bastante convencional, tratando-se de um filme bem comercial. Em relação aos trabalhos de interpretação, temos, como protagonista, o excelente Albert Finney – gosto demais do ator, achei seu trabalho positivo, ainda que não tenha alcançado toda a sua capacidade e seu talento (quem se lembra dele em “Peixe Grande e Suas Histórias”, 2003, excepcional!!!). James Coburn interpreta John Reston, um poderoso diretor de comerciais – gosto do ator também, mas me pareceu que estava lá para cumprir contrato só. No elenco, ainda, Susan Dey como Cindy, Leigh Taylor-Young como Jennifer, Dorian Harewood como tenente Masters e Tim Rossovich como o capanga que não mereceu nome, mas ocupa mais tempo de tela que os personagens “identificados”. Acho que o filme, ainda, consegue estabelecer um diálogo interessante com o sensacional “Como Fazer Carreira em Publicidade” (1989), este, sim, irretocável. Enfim, a obra toca em assuntos muito bons, mas deixa a desejar em seu desenvolvimento. Em todo caso, dá para assistir? Dá sim, não é um filme a se desprezar.

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