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hikafigueiredo

"O Farol", de Robert Eggers, 2019

Filme do dia (06/2020) - "O Farol", de Robert Eggers, 2019 - Início do século XX. Dois homens chegam a uma ilha isolada para cuidar de um farol - o velho marinheiro Thomas Wake (William Dafoe) e o novato Ephraim Winslow (Robert Pattinson). A solidão extrema mexerá com a sanidade dos dois homens.





Após uma surpreendente estréia com o excepcional "A Bruxa" (2015), o diretor Robert Eggers retorna ao gênero terror com este filme e confirma seu talento para dirigir obras que mexam com as emoções e o imaginário do público. O filme retrata a gradual perda de sanidade dos dois homens, em especial do jovem Winslow, que, além do isolamento e da solidão, precisa lidar com o trabalho pesado na ilha e os desmandos de seu superior Thomas. A tensão se desenvolve justamente à partir da evidente disputa de poder entre os dois personagens - Thomas alterna momentos de companheirismo com o jovem Winslow, com outros de extrema crueldade, humilhando e ofendendo o colega de trabalho. Winslow, por sua vez, acata as ordens de Thomas, não sem criar, em seu âmago, uma revolta contida que pouco a pouco se acumula e que, em dado momento, virá à tona como a erupção de um vulcão, trazendo, consigo, o pior do ser humano. O ritmo é extremamente lento e, a tensão, construída milimetricamente ao longo da narrativa. A atmosfera geral é de um grande pesadelo, o que é auxiliado pela escolha da fotografia P&B e pelo formato da tela (quadrada), que nos remetem aos filmes do início do século XX, ainda durante o cinema mudo. A obra arrebata o público, mas essa conquista se dá palmo a palmo do terreno - inicia com um certo desconforto com as imagens iniciais, evoluiu para uma tensão cortante e explode com a espiral de loucura que envolve os dois personagens. A já mencionada fotografia P&B é bastante contrastada e, em alguns momentos, envolve os personagens em uma escuridão opressiva, ameaçadora. A edição de som também é fantástica (ó!!!! Olha só eu falando do som, a surdinha para filmes!!!!) - alterna silêncios incômodos com ruídos ensurdecedores e repetitivos, como sirenes, engrenagens que rangem ou o grasnar agudo e constante das gaivotas, tudo com uma aura de pesadelo. Impossível, ainda, falar da obra sem destacar o trabalho impecável do elenco - William Dafoe está maravilhoso como o velho lobo-do-mar rabugento, mal humorado e bêbado contumaz. Mas, ainda mais impressionante é a interpretação de Robert Pattinson que, inicia com um olhar cansado e entediado, uma cara de peixe-morto que, paulatinamente, vai se tornando um olhar vidrado, insano, cheio de ódio e horror - o ator vai provando, a cada filme que faz, que é um excelente profissional e que tem escolhido papeis diversificados e desafiadores, os quais tira de letra - parabéns! (Só não espere uma aparência de galã em Pattinson - ele parece ter 100 anos, tem uma postura meio encurvada, um jeito de doente no início e de doido de pedra ao fim da obra, nada que lembre o moço bonito e sensual de filmes do passado e que rendiam suspiros nas adolescentes). A obra é EXCELENTE, um verdadeiro achado, mas realmente indicado para quem curte o gênero terror, ao estilo H. P. Lovecraft - terror psicológico, que fique claro, nada dos jumpscares ou gores que vagam por aí. Amei o pesadelo, recomendo demais!

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