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hikafigueiredo

"O Incrível Homem que Encolheu", de Jack Arnold, 1957

Filme do dia (151/2022) - "O Incrível Homem que Encolheu", de Jack Arnold, 1957 - Após um evento aparentemente banal, Scott Carey (Grant Williams) começa a diminuir de tamanho, causando espanto na comunidade científica. Enquanto médicos e pesquisadores buscam uma explicação, Scott precisa adaptar-se à sua nova condição.





Nessa deliciosa sci-fi dos anos 50, temos, mais uma vez, a menção à questão nuclear, tônica comum dos filmes de ficção daquela década. Aqui, o contato acidental com uma nuvem radioativa causará um efeito inimaginado sobre o protagonista - a rápida diminuição de suas proporções, o que, por sua vez, terá consequência direta sobre a personalidade e o estado psicológico do personagem. Se o Scott original era um sujeito gentil, de autoestima elevada e feliz no casamento, o personagem, agora vivenciando seu encolhimento, torna-se amargo, ríspido e cruel com sua esposa, resultado direto de uma diminuição de sua autoestima e confiança. Esta percepção do escritor e roteirista Richard Matheson do machismo tóxico e da fragilidade do ego masculino não deixa de ser um componente surpreendente e cirúrgico na obra, sendo muitíssimo bem pontuado no filme. Outra coisa que sobressai na obra é como o ser humano consegue se adaptar às mais diversas situações e às mais inóspitas condições - o encolhimento de Scott o levará a vivenciar situações absurdas e selvagens, e ele conseguirá adaptar-se graças à sua capacidade intelectual. Apesar de ser, evidentemente, um filme B, a obra terá alguns momentos de reflexão (não muito profundos, é claro) principalmente acerca da condição humana e sua relação com o espaço que nos cerca, chegando a algumas considerações filosóficas sobre o que nos torna humanos e o que nos liga ao universo como um todo - não dá para escrever um tratado com as considerações do filme, mas, não deixa de ser um diferencial quanto a outros filmes B da época. A narrativa é linear, ainda que conte com uma narração em off do protagonista em tempo futuro. O ritmo é bem marcado, com momentos de maior ou menor clímax. A atmosfera passa de leveza para surpresa e, posteriormente para uma gradual tensão. No que se refere às questões técnicas, o filme conta com uma fotografia P&B bem marcada, que torna-se ainda mais contrastada à medida que nos aproximamos do final e a tensão vai, progressivamente, aumentando, aproximando-se, inclusive, do gênero terror. Impossível não destacar, também, o empenho do pessoal que fez os efeitos especiais, aproveitando "truques" técnicos simples - como a dupla exposição do filme cinematográfico e sua divisão em duas metades -, possibilitando a criação de efeitos óticos bastante convincentes e aproveitando como nunca a ilusão do cinema para causar emoções e sensações (coisas como filmar com uma metade da película cinematográfica o personagem bem distante e, com a outra metade, um animal muito próximo, de forma que, quando unidas, deem uma impressão de desproporcionalidade). Claro que, em tempos de CGI, alguns efeitos especiais parecem-nos completamente toscos, mas acredito que, na época, eram extremamente convincentes e, outros ainda, conseguem guardar uma boa qualidade mesmo nos dias atuais). Com relação ao elenco, temos um Grant Williams muito à vontade como Scott Carey, até mesmo porque o protagonista jamais se destaca por ser alguém com capacidades ou condições extraordinárias - não, Scott é um homem absolutamente comum, que, ao ser exposto a uma realidade estranha e inusual terá de "se virar como pode" e não como um super-herói e é essa característica que faz o protagonista ser tão humano e, assim, tão próximo do espectador, que se vê, ali, representado. No papel da esposa Louise, a atriz Randy Stuart, bem na interpretação, ainda que não se destaque. Apesar do mote aparentemente banal - para não dizer patético -, o filme surpreende e mostra situações interessantes de como o ser humano se adapta ao meio. Sinceramente? Gostei do filme muito mais do que imaginava pelo título e pela sinopse. Acho que vale a visita.

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