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hikafigueiredo

“O Pardal na Chaminé”, de Ramon Zurique, 2024

Filme do dia (132/2024) – “O Pardal na Chaminé”, de Ramon Zurique, 2024 – Karen (Maren Eggert) e Markus (Andreas Döhler) vivem na casa em que Karen e sua irmã cresceram, na região de Berna, Suíça, junto com dois de seus três filhos. A proximidade do aniversário de Markus leva a irmã de Karen, Jule (Britta Hammelstein), e seu marido Jurek (Milian Zerzawy), a se juntar no local, trazendo consigo os dois filhos do casal. A agitação da casa, aliada às memórias do passado, transtornam Karen, que começa a reagir negativamente àquela situação.





Neste complexo e incômodo drama familiar, acompanhamos a interação de duas irmãs e de suas respectivas famílias durante o período de um final de semana, no qual Markus, o marido de uma das irmãs, faz uma comemoração de aniversário. A relação entre os personagens é tensa, o que é engatilhado pelo comportamento da irmã mais velha, Karen, uma mulher amarga, fria, crítica e autoritária. Ao longo da narrativa, percebemos que aquela família disfuncional é um reflexo da família originária – Karen e Jule vivenciaram, na infância, um verdadeiro inferno causado pela mãe de ambas, uma pessoa problemática e cruel, que exteriorizava o descontentamento com as filhas e o marido, o qual, sem conseguir mais lidar com a situação, acabou se suicidando dentro daquela mesma casa. A narrativa expõe a reprodução da personalidade da mãe das irmãs em Karen – ela, com o tempo, acabou replicando todos aqueles comportamentos e características da mãe, reproduzindo, na sua família, o tormento que passara no passado. Jule, ao contrário, superou seus traumas e nem mesmo o comportamento rude, autoritário e grosseiro de Karen fazem com que ela saia de seu eixo. É um filme muito desconfortável pela exposição destas relações familiares extremamente violentas, ainda que não ocorram grandes discussões ou arroubos emocionais – não, os ódios e indiferenças são murmurados, são revelados através de comentários maldosos, frases dolorosas sinceras, desejos inconscientes de morte. Karen, particularmente, é uma personagem insuportável, odiada ou desprezada pelos filhos, meramente suportada pelo marido e, de uma forma incompreensível, compreendida pela irmã, sua vítima preferencial – Jule, de alguma forma, a despeito de toda a agressividade da irmã para consigo, compreende e aceita seu jeito de ser, convivendo com isso sem perder a paciência ou a alegria. Em um dado momento, Christina, uma das filhas de Karen, relata que saiu de casa porque ali “tudo se quebra” – é um resumo pontual daquela família, quebrada, destruída e impossível de recuperar sem deixar trincas. Há, perto do fim, um movimento de libertação de Karen – em seus devaneios, ela destrói aquela realidade e seu passado traumático, mas o desfecho – sem spoilers – para mim foi bem anticlimático e insatisfatório. Destaque para as interpretações de Maren Eggert, que consegue transmitir toda a frieza de Karen através de uma comunicação truncada e contida; de Britta Hammelstein, que interpreta uma Jule resiliente, compreensiva e alegre; e para Luise Heyer, que dá vida à personagem Liv, uma agregada da família com um importante papel na história. Eu até estava gostando do filme, mas confesso que o final me desagradou, eu o achei um pouco covarde, pois acena com uma modificação que me soou incompleta. Sei lá, não fruiu tão bem. Assistido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

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