Filme do dia (73/2024) – “O Vencedor”, de Peter Yates, 1979. Em uma pequena cidade universitária de Indiana, EUA, um grupo de amigos acabou o ensino médio e está divagando sobre o seu futuro. Um dos amigos, Dave Stohler (Dennis Christopher), é obcecado pela Itália e sonha em ganhar uma prova de ciclismo de rua que acontecerá na cidade e contará com a presença de uma famosa equipe italiana.
Como representante tardio do cinema da Nova Hollywood, o filme aposta num argumento recorrente do movimento: as dúvidas, inseguranças e ânsias dos jovens daquela geração, bem como numa busca árdua destes por alternativas àquela vida levada por seus pais. Muito embora a temática seja a cara da Nova Hollywood, formalmente o filme se aproxima da narrativa cinematográfica clássica, sendo mais fluída e menos errática que as demais obras do movimento, possuindo um clímax bem definido, já próximo do final. A história acompanha o cotidiano de quatro amigos que acabaram de terminar o ensino médio e têm dúvidas quanto a que caminho seguir em suas vidas. O foco principal é o personagem Dave Stohler – filho de pais bem convencionais do interior dos EUA, ele sonha com a Itália e com a possibilidade de ganhar uma determinada corrida de ciclismo de rua que acontecerá na pequena cidade onde mora. Sua obsessão pelo ciclismo e pela Itália o leva a entrar em rota de colisão com seu pai, um homem duro e fechado em suas convicções. O filme discorre sobre o choque de gerações, retratando, de um lado, uma geração conservadora, rígida e tirânica, e de outro, uma geração jovem, impetuosa, arrojada e cheia de sonhos, a qual é abalada justamente pelas imposições da anterior, maculando, com dúvidas, sua leveza e alegria. A obra retrata, também, o conflito entre a juventude pobre e interiorana e a rica e universitária, a última sendo apresentada como arrogante e preconceituosa. Assim, o filme também discorre sobre a resistência destes jovens pobres do interior estadunidense – que se assumem como “caipiras” -, que lutam por um destino diferente de seus pais, fadados a trabalhar até a morte, sem direito a sonhos, ao contrário dos jovens universitários. Impossível não torcer pelo quarteto de amigos e por seus sonhos de liberdade e futuro! Como já mencionado, formalmente o filme é um pouco menos arrojado que seus pares de movimento. A narrativa é linear, em ritmo moderado, mas crescente, com o esperado clímax final. A obra transita entre a comédia e o drama, alternando passagens leves e divertidas, com momentos mais densos e até mesmo tristes, como uma determinada cena em que Dave, momentaneamente, despe-se de seus sonhos, completamente tomado pela desilusão, ou, ainda, pela situação do personagem Mike, o qual viu seus sonhos ruírem por não ser reconhecido como um promissor “quarterback” (posição dentro do futebol americano), gerando frustração e revolta no jovem. Destaque para as muitas cenas em primeira pessoa de Dave enquanto praticante de ciclismo, seja treinando ou em competições. Destaque, também, para a edição que soube captar muito bem a atmosfera das competições. O elenco traz um talentoso Dennis Christopher como Dave – o jovem ator soube trazer todas as angústias e dores do personagem, bem como seus sonhos de sucesso e reconhecimento, tendo, inclusive recebido um prêmio BAFTA (1980) como jovem intérprete mais promissor (superando a maravilhosa Sigourney Weaver como Ripley em “Alien, O Oitavo Passageiro”); no papel de Mike, temos o ótimo Dennis Quaid, que, no futuro, repetiria em diversos outros personagens, o mesmo padrão de rebeldia e inconformismo; Como Cyril, temos Daniel Stern em seu primeiro papel no cinema, o qual já mostrava sua veia cômica (para quem não liga nome à pessoa, Daniel Stern ficou marcado como um dos assaltantes em “Esqueceram de Mim”, 1990); o personagem Moocher é interpretado por Jackie Earle Haley e Ray Stohler (o pai de Dave), pelo excelente Paul Dooley, numa participação marcante e importante; por fim, Katherine é interpretada por Robyn Douglass. O filme concorreu ao Oscar (1980) de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Música Original e Melhor Roteiro Original, sendo agraciado pelo último. Também teve diversas indicações aos prêmios Globo de Ouro (1980) e BAFTA (1980). Eu achei o filme uma graça, bem amarrado, equilibrado (entre humor e drama) e bem desenvolvido. Gostei e recomendo. Infelizmente, para assistir a ele, só por mídia física ou torrent.
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