Filme do dia (88/2024) – “Os Viciados”, de Jerry Schatzberg, 1971 – A jovem desabrigada Helen (Kitty Winn) conhece Bobby (Al Pacino), um usuário de heroína que também trafica a droga para manter seu vício. Eles dão início a um relacionamento, mas, quando Helen também passa a usar heroína, problemas começarão a surgir entre os dois.
O filme, baseado no romance homônimo de James Mills, é um legítimo representante do cinema da Nova Hollywood. Contando com uma temática tensa e desconfortável – o vício em heroína -, a obra vai retratar um pouco do cotidiano dos jovens viciados da região de Manhatann, mas especificamente da Praça Sherman, também conhecida como “Parque das Agulhas”. A narrativa, ainda que cronológica, não se desenvolve de maneira contínua, sendo formada por blocos quase autônomos que retratam momentos pontuais do casal. Como é comum no cinema autoral da época, não existe um clímax bem definido, cada sequência tem o mesmo “peso” da anterior e da seguinte. A história foca no casal de viciados Bobby e Helen, mostrando desde o início do relacionamento até sua decadência, reflexo do desmoronamento pessoal da dupla, em especial de Helen. Como tantos outros filmes subsequentes que tratam do tema, temos cenas impactantes sobre as consequências do vício como a tendência para o crime, a violência e a prostituição, o risco da overdose e a certa síndrome de abstinência quando da ausência da droga. O filme tem o mérito de ser o primeiro a mostrar de maneira absolutamente crua o vício, inclusive com cenas que performam o momento do consumo (várias são as cenas de plano detalhe das seringas e da aplicação do líquido) e o estado de letargia causado pela heroína nos seus dependentes. Outra característica do cinema da Nova Hollywood encontrada na obra é a total ausência de trilha sonora, inclusive de música diegética (a música que acontece no universo ficcional) – a sonoridade da obra limita-se aos diálogos e ao som ambiente, resultando numa atmosfera seca e incômoda, muito pertinente ao tema. A fotografia colorida segue uma linha documental – o que importa é retratar a “realidade”, deixando de lado qualquer “floreio” ou cuidado estético, com o predomínio de planos médios ou de detalhe. Com relação às interpretações, temos o primeiro papel de protagonista de Al Pacino e, claro, ele arrasa na interpretação de Bobby, demonstrando todo o talento que possui. Mas é Kitty Winn quem sobressai, num trabalho sólido, poderoso e comovente, retratando a fragilidade e o comportamento errático de Helen, que lida com o vício de uma forma bem mais conflituosa que Bobby. No elenco, ainda, Raul Julia como Marco, Alan Vint como o policial Hotch e Richard Bright como Hank. Por sua performance, Kitty Winn foi agraciada com o Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes (1971). O filme é um excelente precursor de outras obras sobre a temática do vício como “Christiane F. – 13 anos, drogada e prostituída (1981), “Trainspotting” (1986), “Réquiem para um Sonho” (2000), “Traffic” (2000) e “Candy” (2006), dentre outros. Eu gostei bastante do filme e recomendo. Infelizmente a obra não pode ser encontrada em nenhum streaming atualmente, sendo possível assisti-la somente em torrent ou mídia física.
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