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hikafigueiredo

"Permanência", de Leonardo Lacca, 2014

Filme do dia (389/2020) - "Permanência", de Leonardo Lacca, 2014 - Ivo (Irandhir Santos) é um fotógrafo pernambucano que vai inaugurar sua primeira exposição "solo" em São Paulo. Ele se hospeda na residência de Rita (Rita Carelli), uma antiga namorada, que é casada com Marcos (Silvio Restiffe), e se envolve com Laís (Laila Pas), uma funcionária da galeria onde se dará a exposição.





Desconcertante, esta é a palavra que define o filme. A obra é interessante à medida em que o que não se diz é muito mais importante e traz muito mais informação do que aquilo que é, efetivamente, falado. O filme discorre sobre afetos, coisas que permaneceram suspensas no tempo, reminiscências, palavras não ditas e sentimentos velados. Existe, o tempo inteiro, uma tensão no ar, seja entre o antigo casal Ivo e Rita, seja entre o novo casal Rita e Marcos, seja no ciúme contido de Marcos por Ivo. O espectador não pode perder de vista que ele ficará desconfortável desde os primeiros minutos de filme e que aqueles silêncios constrangedores que cercam pessoas que não têm bem o que dizer - ou, no caso, até têm, mas o medo e a inadequação de se dizer são maiores - pautarão 99% da obra. Este é um filme profundamente silencioso - os personagens passam muito tempo juntos, mas em silêncio - e o que é falado resume-se a conversas coloquiais, comezinhas. Também é uma obra bastante sensorial - o espectador vai sentir muito mais do que receber informações racionais - e sutil - tudo é sugerido discretamente, nada é abertamente exposto. Não é filme que vai agradar geral - quem não estiver aberto à experiência, quem não tiver um pouco mais de sensibilidade a nuances, vai, simplesmente, detestar a obra, vai por mim. A narrativa é linear, o ritmo é lentíssimo e a atmosfera transita entre o desconforto e a tensão leve. A montagem privilegia os planos longos e morosos. Os enquadramentos são convencionais e raramente ousam um pouco mais. Tudo sugere coisas consolidadas no tempo, permanentes, sólidas. Quanto às interpretações, não há muito o que dizer de Irandhir Santos - camaleão que é, ele sempre traz o necessários aos personagens e, aqui, significa inadequação, saudosismo e uma pontinha de angústia; Rita Carelli, atriz até então desconhecida para mim, mostrou-se à altura de seu par Irandhir - ela traz em si uma agonia muda, e por trás de cada sorriso, há uma sutil tristeza embutida. O ator Silvio Restiffe não me convenceu e, para mim, não disse bem a que veio. Melhor esteve Laila Pas, à vontade como Laís. Este é um filme de difícil degustação - eu até gostei porque gosto destas pequenas sutilezas e de discursos silenciosos, mas acho que a chance do espectador achar obra sem graça é bem grande. Não vou recomendar geral não - use sem bom senso e sua sensibilidade para decidir por ver ou não a obra.

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