Filme do dia (309/2020) - "Poesia", de Lee Chang-dong, 2010 - Mija (Yoon Jeong-hee) é uma senhora idosa que cuida do neto de 16 anos desde a separação de seus pais. Ela anda esquecida, mas, ainda assim, inscreve-se em um curso de poesia. Sua vida sofrerá um reverso quando soube que seu neto está envolvido em uma terrível tragédia.
Esta obra, do mesmo diretor do delicado "Em Chamas" (2018), discorre sobre a poesia que reside em todas as coisas, inclusive nas mais tristes e dramáticas. Discorre, também, sobre responsabilidade e, mais do que tudo, sobre o que é certo. A personagem central, ao ver-se diante de uma questão moral ligada ao seu maior afeto, precisa escolher entre a ética e o amor - e ela fará esta escolha às custas de muito sofrimento. O filme, na minha opinião, é belíssimo, quase na mesma medida em que trata de tragédias e dores excruciantes. Incrível como o diretor extrai poesia de ocorrências tão dramáticas. O filme é bastante lento e constrói todo um panorama com muito cuidado - muito do que ocorre não aparece em cena, está implícito, inclusive os acontecimentos mais importantes da história. É uma obra intuitiva e sensorial por excelência. A narrativa é linear e o roteiro não tem nem um mínimo "buraco", flui perfeitamente, sem sobressaltos, tudo extremamente coeso. Tecnicamente, é um filme todo correto, ainda que nenhum quesito tenha tido destaque excepcional. A interpretação de Yoon Jeong-hee é fabulosa, gigante, justamente por se sustentar nos detalhes - é uma atuação sutil, em que olhares e expressões faciais discretas dizem tudo o que é necessário dizer, minimalista, porém perfeita. Eu adoraria discutir a questão moral envolvida na história, mas isso seria um senhor spoiler, então vou me conter. Só adianto que é uma obra moral e afetivamente complexa e maravilhosa, ainda que muito triste. Recomendo do fundo do meu coração.
PS - Foi agraciado com o prêmio de Melhor Roteiro em Cannes 2010.
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