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hikafigueiredo

"Praça Paris", de Lúcia Murat, 2017

Atualizado: 23 de ago. de 2019

Filme do dia (103/2019) - "Praça Paris", de Lúcia Murat, 2017 - Camila (Joana de Verona) é uma psicóloga portuguesa radicada no Brasil. Ela atende pacientes numa clínica social na UERJ, local onde conhece Glória (Grace Passô), negra, periférica e funcionária da faculdade. A interação entre as duas mulheres se mostrará complicada face ao histórico de violência de Glória.





A obra discorre sobre a empatia, o olhar do outro, o conflito entre os diferentes, a resistência ante o que se desconhece, a resiliência e o medo. As realidades tão diametralmente opostas das personagens - de um lado, a mulher branca, de classe média, com estudo formal e confortável vida num bairro chique do Rio de Janeiro; de outro, a mulher negra, pobre, sem estudo, moradora do morro e com a existência marcada pela violência e pelos problemas sociais de todas as espécies. Camila não é uma "estrangeira" apenas por sua nacionalidade portuguesa - ela é uma "estrangeira em visita" à penosa realidade de Glória e, a cada sessão de terapia, ela se espanta e rejeita aquela realidade. Há uma ironia aqui - Camila escuta Glória, mas não a ouve, não existe uma mínima compreensão do que é a vida daquela paciente, inexiste empatia e sobra medo de que toda aquela violência vivida por Glória respingue, de alguma forma, na terapeuta. Incompreendendo e rejeitando aquela realidade, Camila não acolhe a já abandonada Glória - podemos, inclusive, considerar o abandono como um dos temas da obra: o abandono material, social e, principalmente, o emocional. É um filme que pode incomodar - é quase impossível o espectador não se identificar com alguma das personagens, ainda que possa haver diferentes níveis de empatia pela personagem oposta. Também é uma obra dolorosa, pois a vida de Glória não é agradável de se conhecer. Outro tema que permeia o filme é o racismo - o negro é sempre suspeito, ele sempre traz, em seu bojo, a possibilidade da violência, segundo o olhar de Camila e das autoridades. A obra é muito bem construída e levanta questões interessantes sobre empatia, o papel do ouvinte (profissional ou não), preconceito e autocontrole. Há que se destacar o trabalho de Joana de Verona e, principalmente, de Grace Passô - a personagem Glória é fortíssima, complexa, densa e a atriz tira de letra sua construção. Gostei demais do filme, mais um lindo exemplo de cinema nacional de altíssima qualidade!!! Recomendadaço!

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