“Ran”, de Akira Kurosawa, 1985
- hikafigueiredo
- 30 de abr. de 2023
- 3 min de leitura
Filme do dia (33/2023) – “Ran”, de Akira Kurosawa, 1985 – No Japão Medieval, Hidetora (Tatsuya Nakadai), chefe do clã Ichimonji, decide dividir seus bens entre seus três filhos - Taro (Akita Terao), Jiro (Jinpachi Nezu) e Saburo (Daisuke Ryu). No momento da divisão, ele é confrontado por seu filho caçula, Saburo, que duvida de que seus irmãos irão se manter unidos e fiéis ao pai. Hidetora, sentindo-se contrariado e traído por Saburo, bane o filho e dá plenos poderes ao primogênito, resguardando o título de “Grande Senhor” para si. A decisão se mostrará equivocada, pois na primeira oportunidade, Taro tirará qualquer privilégio do pai idoso, dando início a uma escalada de traições e violência que destruirá o clã.

Como fizera anteriormente com o excepcional “Trono Manchado de Sangue” (1957), ocasião em que fez uma releitura de “Macbeth”, de Shakespeare, Akira Kurosawa, aqui, recria a história de “Rei Lear”, do mesmo autor inglês, transportando a história da Inglaterra pré-cristã para o Japão Medieval. Como na obra original, temos uma história que discorre sobre traição, lealdade, vingança e ingratidão, temas recorrentes nos escritos shakespearianos. Hidetora, o chefe de um poderoso clã, sentindo o peso da idade, resolve dividir seus bens e poderes entre os três filhos, alertando-os que devem permanecer unidos para garantir a força do clã. O filho caçula, Saburo, questiona o pai, pois duvida que essa união será duradoura, o que enfurece o idoso, que se sente traído e desrespeitado, levando-o a banir o filho. O que se segue são jogos de poder e traições que revelam a terrível natureza do primogênito e do filho do meio de Hidetora, demonstrando que Saburo tinha razão em seu questionamento. Sem conseguir lidar com suas dores e decepção, Hidetora enlouquece a passa a vagar pela região seguido pelo bobo da corte e por um servo fiel. Como boa obra de Shakespeare, a história é longa e cheia de acontecimentos dramáticos que se sucedem e deságuam em uma conclusão que não nega sua natureza trágica. Lógico que a união de dois gênios só poderia resultar em uma obra irrepreensível – assisti ao filme ainda no cinema, lá pelos meus dezesseis anos, e, embora nada substitua a tela grande, a obra não envelheceu nada e continua excepcional. Não bastasse o roteiro perfeito, a execução do filme é de outro mundo: numa época em que não existia CGI, as muitas cenas de batalha foram realizadas com centenas de figurantes, e revelam um desenho de produção de época fenomenal!!! O filme é simplesmente grandioso, épico!!! A fotografia privilegia os planos muito abertos e fixos, com um olhar perscrutador daqueles acontecimentos. As interpretações, como de costume no cinema do diretor, são bastante teatrais, com destaque para o trabalho de Tatsuya Nakadai como Hidetora, cuja caracterização nos remete ao teatro kabuki. Destaco, também, o trabalho da ótima Mieko Harada como a pérfida Kaede (sua interpretação de mulher venenosa só perde para Isuzu Yamada como Lady Asaji, em “Trono Manchado de Sangue”). A obra concorreu ao Oscar (1986) nas categorias de Melhor Direção de Arte (como é que não ganhou????), Fotografia (idem) e Diretor, vencendo na categoria de Melhor Figurino. O filme foi, ainda, agraciado com o prêmio BAFTA (1987) nas categorias Melhor Filme e Melhor Maquiagem e indicado ao Globo de Ouro (1986) de Melhor Filme Estrangeiro. Filmaço, só lembrando que é baseado na obra de Shakespeare, logo, bastante longo. Recomendo demais!
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