Filme do dia (140/2024) – “Respiração Fria”, de Nahid Azizi Sedigh, 2023 – Baha (Iman Sedigh) é um homem que teve a vida marcada pelo assassinato de sua mãe por seu pai. Ele recebe a notícia de que Bahram (Ali Bagheri), seu pai, será solto após vinte anos preso pelo assassinato da esposa. No dia da libertação, Baha vai até a prisão para buscar Bahram e decidir se pretende ou não vingar a morte da mãe.
Neste drama silencioso sobre relações familiares, o diretor nos oferece uma história tensa sobre um filho que está em dúvida quanto a vigar a morte de sua mãe, que fora assassinada por seu pai. O filho – Baha – recebe seu pai na saída do presídio, situado em um local distante e ermo, e, juntos, iniciam uma suposta viagem para casa. No caminho, Baha luta contra seus pensamentos de vingança, com dificuldade de decidir sobre o que fazer agora que tem seu pai ao seu alcance. A narrativa sublinha que existem dores que resistem ao tempo e que nada tem o poder de apagar. Por outro lado, acende a discussão acerca do lema “olho por olho, dente por dente” – vingar a morte da mãe assassinando seu pai não tornaria Baha igual ao seu pai? Por outro lado, os vintes anos de prisão de Bahram teriam sido suficientes como pena pelo assassinato? Certo é que a reclusão de seu pai, pelo tempo que fosse, jamais seria suficiente para Baha, e nenhuma justiça humana seria capaz de apaziguar a revolta sentida pelo jovem. Ao longo da narrativa, percebemos a luta interior de Baha – infinitos pensamentos e sentimentos estão em ebulição na mente e alma do rapaz, fazendo crescer a tensão muda dentro do carro e entre os dois homens. A narrativa acena, em alguns momentos, com a existência de afeto entre pai e filho (mais do primeiro pelo segundo do que o contrário), mas isso não traz qualquer alívio. A narrativa, ainda, é linear, em ritmo bem lento. A atmosfera é de tal tensão e agonia que parece ser possível cortá-la com uma faca. A ambientação – campos, montanhas e florestas cobertas de neve – parece um reflexo da frieza do filho pelo pai, e traz um sentimento de abandono gigantesco. A fotografia aproveita bem essa ambientação utilizando-a em infinitos planos muito abertos nas cenas externas, as quais se contrapõem aos planos fechados do interior do carro em que pai e filho estão. Como já mencionado, é um filme em que o silêncio impera – os diálogos são restritos e a música incidental (que não pertence ao universo ficcional) só surge nas últimas cenas. A trilha musical final, por seu tempo, está muito bem colocada e é hábil na formação de uma atmosfera de pesadelo e urgência. O elenco quase se limita aos dois personagens principais – existem, muito momentaneamente, outros personagens, mas o tempo deles na história é ínfimo. O maior trabalho de interpretação fica por conta de Iman Sedigh – ele é quem precisa demonstrar, através de sua expressão e olhar, a luta que trava interiormente, o que faz com sucesso; Ali Bagheri traz um trabalho modesto, não por incompetência, mas porque o personagem realmente exige pouco, com exceção de uma cena, na qual ele é bem convincente (é a cena clímax na obra e, sem dúvida, a mais marcante e poderosa). O filme é ótimo, mas há que se estar acostumado com um ritmo fora dos padrões hollywoodianos. Eu digo que eu saí meio “estragada” do filme, ele traz uma tristeza difícil de digerir. Eu gostei e recomendo. Assistido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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