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“Rota Irlandesa”, de Ken Loach, 2010

hikafigueiredo

Filme do dia (06/2025) – “Rota Irlandesa”, de Ken Loach, 2010 – O ex-militar Fergus (Mark Womack), agora um mercenário a serviço de uma grande empreiteira no Iraque, tenta desvendar a morte de seu melhor amigo Frankie (John Bishop) na “rota irlandesa” – a estrada que liga o aeroporto de Bagdá à zona de controle estadunidense, considerada uma das vias mais perigosas do mundo.




 

Ken Loach é um diretor britânico conhecido por seus filmes engajados, tanto nas questões sociais dentro de seu país – como em “Eu, Daniel Blake” (2016) e “Você Não Estava Aqui” (2019) -, quanto naquelas que extrapolam os limites territoriais da Grã-Bretanha – caso deste filme. A história acompanha a investigação feita pelo personagem Fergus, um ex-militar britânico, agora um soldado mercenário que trabalha para uma grande corporação no Oriente Médio, que tenta desvendar o mistério da morte de seu melhor amigo Frankie, o qual trabalhava na mesma função que Fergus. A investigação é acompanhada de uma sanha vingativa na medida em que Fergus percebe que a morte do amigo não foi acidental e, tampouco, “ossos do ofício”. Ainda que a intenção do filme seja ótima – denunciar os desmandos cometidos por tais soldados mercenários e acobertados pelas grandes corporações, com apoio de diversos governos ocidentais, tudo em terras estrangeiras em zonas de conflitos, como no Oriente Médio e em países africanos –, a obra derrapa em diversos pontos. A primeira “derrapada” reside no fato de o anti-herói Fergus ser um personagem completamente desprovido de apelo emocional: ele, claramente, foi um facínora como aqueles que, agora, ele combate. Ele certamente assassinou dezenas de inocentes em terras estrangeiras e jamais se comoveu por isso, mas, bastou seu “bff” ser morto no Iraque, para ele começar a sentir a dor da guerra. Fato é que eu não consegui ter empatia pelo protagonista e, no fundo, queria que ele se ferrasse tanto quanto os considerados “vilões” da narrativa. Acredito que o diretor não teve o intento de expor os britânicos como “melhores”, ou como os únicos pelos quais devemos lamentar, mas, para mim, não “pegou bem” a mudança do protagonista só acontecer depois da morte de um igual. Então, mantive a antipatia pelo personagem até o final da história. Segunda “derrapada” foi a opção por criar um romance entre Fergus e a companheira do amigo recém-falecido – não fez qualquer diferença no desenrolar da história e, ainda, fez com que minha antipatia aumentasse em relação ao protagonista que, além de ser um assassino, ainda se mostrou “talarico”. Por fim, achei a relação estabelecida entre os dois amigos o suprassumo do machismo e misoginia – aquela coisa de que homens heterossexuais são extremamente homoafetivos em suas relações. Frankie e Fergus tinham uma relação de afeto que suplantava a relação amorosa entre Frankie e Rachel, sua namorada, ao ponto de Fergus saber muito mais do amigo que sua companheira. Talvez até seja uma rabugice minha, mas aquela relação entre os amigos me soou péssima, algo doentiamente machista e excludente em relação à personagem Rachel. Quanto aos pontos positivos, acredito que algumas cenas verdadeiras da área de conflito, com a exposição de mortos e feridos reais, dentre os quais diversas crianças, talvez toquem os espectadores e lhes abram os olhos quanto a um posicionamento em relação aos conflitos armados e ao interesse de grandes corporações em seus territórios. A narrativa é predominantemente linear, com alguns pequenos flashbacks, em ritmo moderado a marcado. A atmosfera é de leve tensão, suspeita e, a partir de certo ponto, indignação – pelo menos para mim que sou empática com as verdadeiras vítimas destas áreas de conflito: as populações civis e pobres que habitam esses lugares e que são esquecidas por todos, sendo, inclusive, arregimentados por grupos terroristas justamente por conta da injustiça que sofrem e indignação que sentem. Gostei do argumento, mas achei o desenvolvimento do roteiro meio capenga, levando às derrapadas já mencionadas. Tecnicamente, o filme tem qualidade padrão – muito bem-feito, mas sem destaques que mereçam menção. As interpretações foram protocolares, possivelmente pelo roteiro não ajudar muito no aprofundamento dos personagens – Mark Womack, como Fergus, e Andrea Lowe, como Rachel, não conseguiram me tocar em momento algum. O filme mostra-se muito aquém de outras obras do diretor, o que, sinceramente, me surpreendeu muito (gosto demais de alguns filmes dele e esperava mais, certamente). Não é um filme péssimo – ele conseguiu segurar minha atenção o suficiente para eu não ter sono -, mas é bem menos do que o potencial de Loach alcança. Não encontrei em streaming pelo Justwatch, assim, para assistir, só em torrent ou mídia física.  

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