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hikafigueiredo

“Réquiem para um Sonho”, Darren Aronofsky, 2000

Filme do dia (40/2024) – “Réquiem para um Sonho”, Darren Aronofsky, 2000 – Harry (Jared Leto) é um jovem viciado em drogas que, com frequência, rouba objetos de sua mãe Sara (Ellen Burstyn), uma senhora solitária que tem, na televisão, sua única companhia. Harry tem um envolvimento amoroso com Marion (Jennifer Connelly) e, na companhia do amigo Tyrone (Marlon Wayans), começa a traficar heroína “batizada” para juntar dinheiro. Paralelamente, Sara acredita que em breve será chamada para aparecer em um programa de televisão e almeja usar um antigo vestido vermelho na ocasião, precisando, para tanto, emagrecer muitos quilos.  




 

Este, na minha opinião, é o filme mais “soco no estômago” que existe relacionado ao consumo de drogas, ultrapassando os também ótimos “Trainspotting” (1996) e “Candy” (2006) em desconforto e impacto e se igualando à porrada “Eu, Christiane F. – 13 Anos, Drogada e Prostituída” (1981), baseada na biografia da protagonista. É uma obra perturbadora, profundamente pessimista, e que conduz o espectador a uma descida ao inferno junto com os personagens. Acho interessante que, a história, diferente das demais citadas, não se limita a expor o risco do consumo de drogas pesadas, como cocaína e heroína, mas expõe, também, a questão do consumo de drogas prescritas por médicos pouco responsáveis, caso das anfetaminas, usadas para emagrecer.  A obra retrata um pouco de todas as consequências do vício em drogas, indo das alucinações à abstinência, passando pelo desespero de buscar substâncias a qualquer custo. Para ter uma ideia, o personagem que tem o desfecho “melhor” é encarcerado em um presídio de trabalhos forçados, trabalhando até a exaustão – imagine os demais. A narrativa é linear, em ritmo muito intenso. A atmosfera é de angústia crescente e não permite qualquer concessão, sendo, propositalmente, um filme pesado e muito deprimente. Formalmente, a obra ousa de diversas formas. A fotografia usa e abusa de posições de câmera diferenciadas, com muitos plongées e contraplongées, lentes grande-angulares que distorcem a imagem, câmeras lentas ou aceleradas (dependendo do efeito que se almeja, relacionado com o momento dos personagens), planos detalhe de imagens recorrentes (líquido que “ferve”, imagem de sangue correndo nas veias, pupilas dilatando, tudo como representação do consumo das drogas, que apenas uma única vez é mostrado de uma maneira explícita), dentre outros. A edição muito fragmentada resulta em um ritmo alucinado, por vezes quebrado por uma passagem mais longa, onde o diretor estende uma situação (como na cena em que Marion encontra o traficante). O som do filme faz uso de uma música atonal, com timbres agudos e repetitivos, intencionalmente incômoda. No elenco, Jared Leto em um momento inspirado, convence bem como Harry; Jennifer Connelly, com a usual competência, quebra para todo o sempre a imagem inocente da atriz em “Labirinto” (1986), interpretando uma Marion disposta a tudo para manter seu vício; mas quem sobressai, sem dúvida, é a magnífica Ellen Burstyn, que dá vida à solitária senhora Sara Goldfarb, mãe de Harry, que inocentemente começa a consumir pílulas para emagrecer sob orientação de um médico e acaba viciada em anfetaminas – Burstyn, maravilhosa, interpreta uma Sara que vai da euforia à depressão até, finalmente, entrar em paranoia e alucinar, num trabalho fenomenal da atriz, que a levou a ser indicada ao Oscar (2001), ao Globo de Ouro (2001) e ao Prêmio do Sindicato dos Atores (2001) na categoria de Melhor Atriz. O filme é um alerta bem evidente – talvez um pouco panfletário, concordo – sobre o consumo de drogas de qualquer espécie e, ao fim dele, o espectador ganha de presente uma “bad” daquelas. Mas é um ótimo filme, acredito que o melhor do diretor, e vale a pena a visita. Destaque: a cena da banheira de Marion, recriação detalhada de uma cena do anime “Perfect Blue” (1997), cujos direitos foram comprados por Aronofsky especificamente por causa desta cena.

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