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hikafigueiredo

“Sujo”, de Astrid Rondero e Fernanda Valadez, 2024

Filme do dia (146/2024) – “Sujo”, de Astrid Rondero e Fernanda Valadez, 2024 – “Sujo” (Kevin Aguilar) é um menino de quatro anos, cujo pai, um pistoleiro envolvido com cartéis de drogas, é assassinado após matar o filho de um chefão local. O menino é jurado de morte, mas sua tia convence o criminoso a permitir que ela crie a criança longe da criminalidade. Anos depois, Sujo (Juan Jesus Varela), adolescente, vê a violência do passado ressurgir na sua vida e ele precisa tomar uma decisão.




 

Com uma história sobre violência, predeterminação e redenção, o filme fecha seu olhar no protagonista “Sujo”, em dois momentos de sua vida. Aos quatro anos, “Sujo” tem seu pai assassinado por um cartel de drogas após executar o filho de um criminoso pertencente a tal cartel. O criminoso procura a criança para executá-la, mas a tia do menino o convence a deixar “Sujo” vivo, desde que distante da criminalidade. Os anos se passam e “Sujo” vê seus irmãos de criação se envolverem com a bandidagem, oportunidade em que ele se vê num dilema: ficar ao lado de seus irmãos e entrar para a criminalidade ou fugir do local e tentar quebrar o ciclo de violência e morte que sempre marcou sua vida. A narrativa retrata a reprodução da violência e a dificuldade de se afastar dela quando se nasce já no meio de uma realidade dominada pelo crime. “Sujo” busca alternativas, mas o passado bate à sua porta e “Sujo”, a despeito de sua luta diária para fugir da violência, é tragado pelo crime, que, como ondas na beira de uma praia, puxa o rapaz para o fundo, minutos após permitir que ele vá em direção à terra firme. A obra se fixa nessa questão do destino predeterminado versus busca por uma realidade alternativa – a violência seria a única possibilidade de “Sujo” ou ele poderia escolher outro caminho? Com uma atmosfera claustrofóbica, o filme acena com a possibilidade de redenção através do conhecimento, ainda que deixe claro ser este também um caminho de luta e percalços – nada será fácil para “Sujo”, qualquer que seja sua escolha. O filme traz uma fotografia poética, com recortes de luz e sombra belíssimos, que contrasta com toda a violência e pobreza que circundam o protagonista. O ritmo é moderado e constante, independente do momento “da onda” em que o personagem esteja. No papel de “Sujo” jovem temos Juan Jesus Varela, o qual consegue trazer solidez ao protagonista – confesso que o personagem me despertou um sentimento materno, de proteção, principalmente pela resiliência ante às adversidades que ele demonstra. Eu gostei do filme, mas saí dele com o coração um pouco pesado. A cena final, a qual retoma a primeira cena, deixou um nó na minha garganta. Eu gostei e recomendo. Assistido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

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