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  • hikafigueiredo

“Tango”, de Carlos Saura, 1998

Filme do dia (103/2024) – “Tango”, de Carlos Saura, 1998 – Buenos Aires, Argentina. Um prestigiado diretor de cinema, Mario Suárez (Miguel Ángel Solá), prepara um filme sobre o tango, enquanto recupera-se de ter sido abandonado por sua esposa Laura (Cecilia Narova). Durante os preparos da produção, Mario conhece Elena (Mia Maestro), uma das bailarinas, envolvendo-se em um tórrido romance. Ocorre que Elena é a namorada de Angelo Larroca (Juan Luis Galiardo), o principal financiador da produção e um homem perigoso.





Este deslumbrante filme metalinguístico de Carlos Saura traz uma imbrincada narrativa que mistura a realidade do universo ficcional com a obra cinematográfica que está sendo produzida pelo personagem principal. Os limites entre os dois universos, no começo, são tênues e, quanto mais avançamos, mais mesclada se torna a narrativa, de forma que os âmbitos praticamente se fundem, retomando o mesmo expediente utilizado no fabuloso “Carmen” (1983), do mesmo diretor. Na realidade, “Carmen” e “Tango” são quase gêmeos univitelinos, pois, além de seguirem a mesma fórmula, trazem histórias bastante parecidas, o que pode trazer algum incômodo aos espectadores que conheçam as duas obras, muito embora confesse que isso não me aborreceu minimamente, talvez por ser fã incondicional do filme precedente.  Ainda que o tema central foque no relacionamento amoroso do protagonista, a história abre espaço para outras discussões, em especial a questão política, temática recorrente do diretor. Se em “Ana e Os Lobos” (1973), o diretor discorria, em forma de metáforas, sobre a ditadura franquista que assolava a Espanha na época da produção daquele filme, aqui ele trata, abertamente, através das coreografias, da ditadura militar que, no mesmo momento, calava a Argentina, impondo-lhe torturas, assassinatos e desaparecimentos – essas coreografias, além de maravilhosas, são bastante expressivas e impressionantes. Por sua própria natureza, é evidente que a narrativa não é linear. O ritmo é fluido e agradável, com um leve crescimento até um pequeno clímax, próximo ao fim. A atmosfera é sensual, inebriante, com exceção do momento das coreografias relacionadas à ditadura, que tornam o clima pesado e angustiante. Esteticamente, o filme é apoteótico. Poucos filmes são tão belos. A fotografia colorida, assinada pelo mestre Vittorio Storaro, muito saturada, brilhante e contrastada, faz uso de muito contraluz, bem como de iluminação colorida, em tons quentes. Há o predomínio de planos abertos e médios, principalmente durante as danças. O desenho de produção, riquíssimo e rebuscado, aposta em contrastes de cor, com o uso reiterado de cores quentes, com destaque no vermelho, que é encontrado em roupas, objetos de cena, cenários e maquiagens – é um filme muito vibrante e sensual. Evidente que há um virtuosismo nas coreografias, todas incríveis e lindíssimas (mas, admito que prefiro o ritmo flamenco ao tango, foco das obras “Bodas de Sangue”, 1981, “Carmen” e “Amor Bruxo”, 1986, todas do diretor). A trilha musical passeia por inúmeros tangos, não se esquecendo do mais célebre, “La Cumparsita”. O elenco traz Miguel Ángel Solá, como Mario, e Mia Maestro, como Elena, mas, para mim, quem se destacou, mesmo com seu pouco tempo em tela, foi Cecilia Narova, como Laura – que mulher sensual e expressiva!!!! Maravilhosa. O filme foi indicado para Melhor Filme Estrangeiro, representando a Argentina, no Oscar (1999) e no Globo de Ouro (1999). Eu gosto muito do cinema de Carlos Saura e aqui não foi diferente. Gosto das atmosferas dos seus filmes, dos mais antigos – alegóricos, críticos e interpretativos – aos mais recentes – passionais, intensos e mais “estéticos” -, e mesmo a similaridade com “Carmen” não me incomodou. Gostei, achei lindo e recomendo. O filme está disponível em streaming na plataforma Looke, em torrent e em mídia física.

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