Filme do dia (15/2025) – “Tempestade Infinita”, de Malgorzata Szumowska e Michal Englert, 2022 – A experiente montanhista Pam Bales (Naomi Watts) sai para escalar o Monte Washington, mas, com a aproximação de uma tempestade, retorna antes de chegar ao cume. No caminho de descida, depara-se com um desconhecido prestes a morrer por congelamento e salvar sua vida torna-se uma missão para ela.

Baseada em fatos, a obra discorre sobre acontecimentos que, subitamente, mudam nossas vidas e paradigmas, legando novos significados a pequenas ou grandes ações ou ocorrências. A protagonista é uma mulher madura, marcada por uma tragédia pessoal a qual a deixou apática e sem objetivos e que tem, no montanhismo, sua válvula de escape – a atividade a deixa entorpecida e, por algum tempo, ela consegue esquecer suas dores. O encontro com John – o desconhecido quase morto por congelamento – desperta sentimentos antigos em Pam, deixa-a alerta e decidida quanto ao seu salvamento e, ao longo de várias horas, ela supera todos os obstáculos possíveis para conduzir John em segurança para a base da montanha. O filme mistura história de superação com narrativa de reconstrução emocional e, apesar de alguns problemas de roteiro, consegue fazer isso sem apelar para o melodrama ou para a manipulação do público – o que, para filme estadunidense, é louvável. Mas que problemas de roteiro são esses? O primeiro está na construção da personagem Pam – eu não vi, na protagonista, nem a determinação que a personagem exigia, nem a fragilidade que sua tragédia pessoal teria deixado nela. Em outras palavras, Pam é um pouco amorfa, no lugar de complexa e contraditória. Vi aqui, além de um problema de roteiro, uma questão na direção de atores, mesmo gostando muito da atriz. Para mim, que entendo minimamente de montanhismo, a personagem comete erros crassos, que uma praticante da atividade – pior, uma resgatista - jamais faria, como tirar suas luvas em meio ao gelo ou não testar locais onde o solo poderia ceder (lembrei do quase cômico “Limite Vertical”, 2000, um agregado de absurdos sobre escalada, suas técnicas e equipamentos). Por fim, senti falta de “liga” entre a tragédia pessoal de Pam e seu renascimento a partir do salvamento de John – os assuntos me pareceram soltos, faltando coesão no processo de mudança da personagem. Por outro lado, gostei de como o resgate de John foi conduzido, de como as dificuldades e obstáculos vão sendo colocados. Achei um pouco exagerado o uso recorrente de imagens desfocadas para indicar cansaço, confusão ou esforço físico. Gostei que a obra não exagerou no uso de músicas para “dar clima” – sempre prefiro filmes silenciosos, acho que as emoções surgem de uma maneira mais natural e genuína. Quanto ao trabalho do duo de intérpretes – Naomi Watts como Pam e Billy Howle como “John” -, como mencionei, achei que houve uma falha na direção de atores, pois a interpretação deles – principalmente de Naomi Watts – ficou bem aquém do desejável. Eu, sinceramente, achei o filme fraco e senti certa impaciência ao longo dele, mesmo se tratando de um tema que eu gosto tanto (montanhismo). Tem coisa melhor por aí (tipo “Livre”, 2014, “Na Natureza Selvagem”, 2007, ou “No Coração da Montanha”, 1991). Disponível em streaming, pela Netflix e Prime Video, e para alugar na Apple TV.
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