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“Vitória”, de Andrucha Waddington, 2025

hikafigueiredo

Filme do dia (16/2025) – “Vitória”, de Andrucha Waddington, 2025 – Dona Nina (Fernanda Montenegro) é uma idosa solitária que vive em um apartamento em Copacabana, de frente para um morro cuja comunidade está tomada pelo tráfico de drogas. Diariamente, Dona Nina observa, de sua janela, a movimentação de traficantes e policiais corruptos, mas suas denúncias são ignoradas pelo delegado. Decidida a denunciar o que ocorre diante de seus olhos, Dona Nina começa a gravar, dia após dia, os crimes cometidos na sua vizinhança.





 

Ainda na ressaca do Oscar 2025 e feliz pelo sucesso atingido por “Ainda Estou Aqui” (2024) nos cinemas brasileiros e internacionais, resolvi ver o último trabalho de Fernanda “Mãe”, aqui dirigida pelo próprio genro, Andrucha Waddington. Fiquei surpresa e sinceramente empolgada por encontrar uma sala de cinema - passando um filme nacional – lotada. Maaaaaas... confesso que já vi (muitos) filmes brasileiros mais impactantes que esse (e que não receberam nem metade da mesma atenção). Reconheço que há motivos até que bastante lógicos para a obra não ter tido um efeito tão marcante em mim. O primeiro e mais evidente: o fato de ser notório o desfecho da história de Dona Nina – afinal, foi amplamente divulgado na imprensa na época -, fez com que não houvesse qualquer elemento surpresa na narrativa. Assim, o que deveria causar uma atmosfera de tensão, acabou se transformando em uma história um pouco morna, uma vez que já ciente do desfecho. A segunda razão é bem menos óbvia: apesar de ser uma história interessante, em especial pela coragem demonstrada pela protagonista em denunciar o tráfico, para mim faltou volume na narrativa. O filme, quase exclusivamente, se atém à conduta de Dona Nina em gravar a movimentação dos traficantes e denunciá-los. Outros ganchos importantes – como a solidão da personagem, seu passado traumático ou sua relação com outros personagens - são meramente mencionados ou ganham uma pincelada muito “en passant”, quando deveriam trazer maior profundidade e complexidade à trama. Por isso, a narrativa me pareceu “rala”, em parte esvaziada do que lhe poderia conferir volume. Outro ponto que, para mim, foi desperdiçado – não há um paralelo entre o glamour do Rio de Janeiro e as entranhas podres da cidade relacionadas ao tráfico de drogas. O tempo todo estamos confinados naquele recorte do lado “feio” do Rio de Janeiro, o que, mais uma vez, lhe retira volume. “Ah, mas então você não gostou do filme?”. Não é que eu não gostei do filme, mas eu o achei um pouco protocolar e óbvio, pelos motivos expostos. Tecnicamente, o filme é correto – tem uma fotografia interessante, que foca muito no olhar da protagonista, o que nos remete facilmente à obra prima “Janela Indiscreta” (1954) e ao ótimo “Dublê de Corpo” (1984). Tem uma edição de som excelente – o medo de Dona Nina perpassa pelos tiroteios diários que acontecem em frente à sua casa e boa parte dessa informação vem pela edição de som. Quanto ao elenco, temos Fernanda Montenegro no papel de Dona Nina – a atriz dispensa comentários, ela é fantástica, porém, pela idade muito avançada, ela está começando a perder um pouco da presença. Eu me explico: ainda que ela tenha uma impostação de voz fabulosa – e aqui ela se coloca MUITO através de seu vozeirão imponente -, fisicamente ela se mostra bastante fragilizada. E não, não acho que isso de deva à personagem: Dona Nina é decidida, sabe o que quer, ganha discussão “no grito”, é ativa e, para muitos, um incômodo devido sua combatividade e insistência. Mas, fisicamente, a vemos como uma velhinha muito velhinha, o que não combina muito com sua personalidade. Da mesma forma, o rosto muito vincado pelo tempo está dificultando que a atriz demonstre sutilezas através expressão facial (percepção que me doeu demais). “Foi um erro colocá-la como protagonista ?” – Fernanda Montenegro jamais será um erro, mas, decerto, ela não está tão fenomenal como em “Central do Brasil” (1998). O elenco ainda traz Linn Da Quebrada, Alan Rocha (ótimo como Fábio Gusmão) e Laila Garin. Destaco o trabalho de Thawan Lucas, um ator mirim incrível, que consegue fazer uma transição maravilhosa com seu personagem, que passa de menino carente e trabalhador para olheiro do tráfico. Olha... não é um filme ruim, não. Vale a pena ver, mas é bom não ir com expectativa muito alta porque a chance de se decepcionar é grande, por conta destes poréns já expostos. Atualmente em cartaz nos cinemas (graças a Deus, cheios).

 
 
 

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