Filme do dia (157/2023) – “Viver Duas Vezes”, de Maria Ripoll, 2019 – Emílio (Oscar Martinez) é um professor universitário que descobre estar com Alzheimer. Ele decide procurar Margarita, seu amor de adolescência, antes que ele se esqueça dela.
Apesar de contar com vários alívios cômicos ao longo da narrativa e ter uma sinopse que inspira o romance, o filme está muito mais para o drama, daqueles de escavar o coração com colher de plástico. Na história, acompanhamos o ocaso de Emílio, um professor universitário diagnosticado com Alzheimer. Ciente de que, lentamente, irá esquecer de tudo – seu conhecimento, sua família, sua identidade -, ele decide sair em busca de seu grande amor de adolescência, que se mantivera platônico desde então. Contando com a ajuda de sua neta Blanca e sob a contrariedade de sua filha Júlia, ele sai de Valência e parte para Navarra atrás de sua amada. A obra trata com delicadeza da doença incurável, fazendo uso de um olhar paciente e amoroso para com aqueles que sofrem do mal. O declínio de Emílio é mostrado sem pressa - o roteiro tem o cuidado de não dar excessivos saltos temporais que dariam uma impressão errada da doença, mostrada como uma enfermidade que se espreita, chegando vagarosamente. A obra também acolhe os familiares de quem sofre da moléstia, mostrando as dificuldades enfrentadas por estes para acompanhar seus entes amados até o fim. A narrativa é linear, com alguns poucos flashbacks de Emílio com Margarita. O ritmo é muito suave, tratando o tema com o devido respeito. Não se engane com a atmosfera inicial leve e contando com certo humor – principalmente da parte do próprio protagonista -, pois, paulatinamente, essa leveza será substituída por angústia e comiseração. Eu, que tenho um coração meio peludo e raramente choro em filmes, terminei aos prantos a obra. Hmmm, confesso que não entendi muito bem a necessidade de alguns dramas paralelos, como a deficiência física de Blanca ou a relação conturbada de Júlia e seu marido Felipe, mas se não auxiliaram na questão central, tampouco atrapalharam. Tecnicamente, é um filme bem-feito, mas padrãozinho, sem muito o que destacar. Com relação às interpretações, gostei demais do trabalho do ator argentino Oscar Martinez (que eu já conhecia pelos ótimos “Relatos Selvagens”, 2014, “O Cidadão Ilustre”, 2016, e “Toc Toc”, 2017) – ele consegue fazer a passagem do personagem da total sanidade a um estágio avançado da doença com perfeição, sem “trancos” ou maneirismos; ótimo também o trabalho de Mafalda Carbonell como Blanca, uma adolescente sem muito “filtro” (como todos nessa faixa etária); Inma Julia interpreta a filha Julia e Nacho López o genro Felipe, num trabalho suficiente, mas sem brilho. A obra dialoga com os filmes “Amor” (2012), “Para Sempre Alice” (2014) e “Meu Pai” (2020). Olha... fiquem avisados que é um filme MUITO tocante e que irá aflorar seu lado mais sensível. Preparem os lenços. Recomendo fortemente.
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